A nova Diretoria da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) tomou posse em cerimônia realizada na última quinta-feira (17/07), na Universidade Federal Rural de Pernambuco – sede da 77ª Reunião Anual da entidade. A professora e pesquisadora da Universidade Federal de Campina Grande, Francilene Garcia é a nova presidente da SBPC. Ao seu lado assumiram a Vice-Presidência: Soraya Soubhi Smaili, professora titular da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Aldo José Gorgatti Zarbin, professor titular da Universidade Federal do Paraná (UFPR). A Secretaria Geral fica sob a condução de Andrea Mara Macedo (UFMG). As três vagas da Secretaria ficam com Marilene Corrêa da Silva Freitas (UFAM), Ana Tereza Ribeiro de Vasconcelos (LNCC/RJ) e Samuel Goldenberg (UFPR). A 1ª Tesouraria foi ocupada por Giselle Zenker Justo (Unifesp), e a 2ª Tesouraria por Laila Salmen Espíndola (UnB).
Envolvida com a diretoria da entidade desde 2023, quando assumiu a vice-presidência na gestão de Renato Janine Ribeiro (2023-2025), Garcia participou de diferentes iniciativas voltadas à reflexão da política científica brasileira e valorização de cientistas. Entre elas, integrou o corpo técnico da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5ª CNCTI), assumindo a Subcomissão de Sistematização e Documentação do evento; também coordenou duas edições do Prêmio Carolina Bori “Ciência & Mulher”, ação da própria SBPC para a promoção de cientistas mulheres renomadas e jovens cientistas; e foi a organizadora do “Vozes de Ciência”, uma série de seminários voltada à construção política do País, e que seguirá com novas atividades.
“Inicialmente, eu queria dizer que foi um tempo maravilhoso esses quatro anos liderados pelo Renato Janine Ribeiro, sendo dois em que pude conviver na vice-presidência. O Renato tem uma característica fantástica que é a sua generosidade. E sempre ele está com um sorriso largo nos fazendo filosofar. Isso eu acho que é fundamental nos dias atuais. São muitas mudanças, muitas incertezas, a gente olha para o dia de amanhã já sabendo que tem alguma novidade aí no processo. Então, Renato, obrigada pela aprendizagem, pela convivência e por tudo que você fez pela SBPC neste período”, disse Garcia, em seu primeiro discurso.
A nova presidente da SBPC também agradeceu aos demais cientistas que a acompanharam na gestão passada e que darão espaço a novas vozes: o físico e professor da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Artaxo, ex-vice-presidente; a professora da Universidade de Brasília (UnB), Fernanda Sobral, ex-diretora da entidade; a professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Claudia Linhares Sales, ex-secretária geral; e a professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Marimélia Porcionatto, ex-tesoureira. “Foi muito bom e confortável conviver com essas pessoas”, ponderou.
Para Garcia, a SBPC atuará no biênio 2025-2027 em cinco importantes eixos: 1. Seguir lutando para transformar a ciência em política de Estado; 2. Maior inserção da juventude na ciência; 3. Fortalecimento da gestão e da governança; 4. Fortalecer a aproximação entre ciência e sociedade e 5. Inserção internacional e solidariedade científica.
A presidente da SBPC lamentou as recentes declarações e decisões do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que exigem posicionamentos firmes em prol da soberania brasileira, mas também criticou ações em tramitação no nosso poder Legislativo e que atuam contra o próprio Brasil.
“Hoje, vivemos um grave momento também em nosso País. Projetos que tramitam no Congresso Nacional, como o PL da Devastação e a proposta que autoriza o uso de até R$ 30 bilhões do Fundo Social do pré-sal para o refinanciamento de dívidas do agronegócio com juros subsidiados – um recurso originalmente destinado a áreas essenciais como Educação, Saúde e Habitação –, representam ameaças concretas ao futuro do Brasil. Esses retrocessos são impulsionados por velhas práticas de chantagem institucional, que ferem o pacto democrático, comprometem o interesse público e desfiguram o papel do Estado. É hora de levantar a voz. A ciência brasileira não se calará diante do retrocesso.”
Gratidão, saudades e novo começo
Despedindo-se do cargo, o ex-presidente da SBPC e ex-ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, afirmou que deixar a Diretoria da entidade após quatro anos é lidar com sentimentos mistos. O primeiro é o de missão cumprida. Já o segundo é o de perda, de estar pronto para atender as demandas da comunidade científica.
“Nós assumimos em um período muito negativo para o Brasil, dando continuidade ao embate contra a ditadura, contra o regime, contra a pré-extensão do autoritarismo, que foi conduzida por Bolsonaro. Um embate eficientemente iniciado na gestão anterior, de Ildeu Moreira. Então, após esse enfrentamento, o primeiro sentimento é de satisfação, algo que veio de muito trabalho e de muita dedicação. Mas o segundo sentimento é de saudade, que gera uma certa tristeza também. Nós deixamos esse processo e passamos a outras pessoas, como é da natureza humana. E nesse momento em que transmitimos a presidência da SBPC, quero ressaltar que ela estará nas mãos da primeira presidente mulher nordestina da nossa história, Francilene Garcia. A segunda nordestina, antecedida apenas pelo grande e extraordinário Anísio Teixeira.”
SBPC (Rafael Revadam – Jornal da Ciência)