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Tecnologia inédita utilizará a casca do arroz na fabricação de derivados do silício
O Brasil está prestes a solucionar um grave problema ambiental. A Oryzasil Silicas Naturais, de Itaqui (RS), acaba de mapear o caminho tecnológico que promete dar fim aos 17 milhões de metros cúbicos de cascas de arroz, gerados por ano pelas indústrias de beneficiamento do grão instaladas no Rio Grande do Sul. De difícil degradação, se depositadas no solo, as cascas levam anos para se decompor e virar adubo. E quando utilizadas na geração de energia renovável, a queima das cascas, por sua vez, gera cinzas, outro subproduto sem nenhum valor comercial no Brasil.
Para resolver o problema, a Oryzasil foi buscar no mercado alternativas para o aproveitamento desse resíduo. E foi então que passou a desenvolver uma tecnologia que prevê o aproveitamento das cinzas para a obtenção de derivados de silício, empregados desde a fabricação do silicone para o segmento da construção civil, até a produção do pneu verde.
Assim, o desafio, agora, é a implementação de uma planta que permita a produção em grande escala, desde a sílica até demais derivados do silício. Ainda em fase piloto, no próximo dia 9 de maio, será inaugurada a planta, que vislumbra a partir de 2020, o processamento de 140 mil toneladas de cascas para produção de energia ao ano, que irão produzir 28 mil toneladas de cinzas, as quais serão convertidas em derivados de silício de alto valor agregado.
E é aí que entra a Finep. Em parceria com a empresa brasileira Marina Tecnologia, que atua no segmento de novos materiais, dentre eles sílica e silicone, para a indústria química, a Oryzasil concorreu ao edital do Plano de Desenvolvimento e Inovação da Indústria Química – Padiq, lançado em novembro de 2015 em uma iniciativa conjunta da Finep com o BNDES. Nesta chamada, foram disponibilizados R$ 2,2 bilhões para apoio a projetos contratados no período de 2016 a 2019. Selecionada no edital, finalizado em janeiro de 2017, a Oryzasil foi contemplada com R$ 4,2 milhões, em recursos de subvenção econômica, modalidade de apoio financeiro que consiste na aplicação de recursos públicos não reembolsáveis.
“Ao conceder recursos de subvenção, a Finep compartilha com a empresa os custos e riscos inerentes às atividades de ciência, tecnologia e inovação”, afirma Renata de Castro, analista do Departamento de Química, Metalurgia e Materiais da Finep. Além dos recursos do edital, a Oryzasil conta com mais R$ 13 milhões que serão disponibilizados pela Finep na modalidade de crédito, com juros subsidiados. Este novo contrato de financiamento é o primeiro a utilizar o mais novo instrumento de garantia financeira operado pela Finep. Trata-se do Stand by Letter of Credit, uma carta de fiança concedida por bancos estrangeiros a um custo infinitamente menor em comparação ao praticado no mercado brasileiro.
A tecnologia da Oryzasil, que exigirá investimentos da ordem de R$ 25 milhões – sendo R$ 17,2 milhões em recursos da Finep, é inédita e prevê a criação de uma cadeia de produtos a partir da utilização de técnicas renováveis e sustentáveis. O processo consiste em separar derivados de silício – as cinzas apresentam alta concentração de sílica, por exemplo, para o desenvolvimento de tecnologias destinadas ao aumento da qualidade, vida útil e valor econômico dos empreendimentos no setor da construção civil e pneumático.
“A Oryzasil fez mais do que atender ao edital do Padiq, ao apresentar uma rota tecnológica verde, por meio de técnicas renováveis e sustentáveis, quando a chamada previa apenas o desenvolvimento de tecnologias de utilização de produtos químicos derivados do silício”, diz Renata de Castro. A produção de derivados do silício (silicones) já existe há décadas e está baseada em processos industriais bem definidos. No entanto, apresenta problemas, como no caso da produção do siloxano, matéria-prima indispensável na obtenção do produto, que requer alto consumo energético, tempo alongado de processamento e, como consequência, o alto risco de falhas. Por conta de todos esses fatores, hoje, o Brasil importa silicone para atender aos vários setores da economia, especialmente o da construção civil.
A busca pela obtenção do siloxano através do silício da casca de arroz permitirá a nacionalização da produção, e, além da vantagem competitiva de custo, será possível atender à demanda local, a partir da implementação de uma unidade fabril, ainda inexistente no País. “A Oryzasil propõe método produtivo inovador, com alto grau de ineditismo em nível mundial, e ainda com a utilização de um resíduo agroindustrial. O que se busca é substituir cada vez mais materiais fósseis por renováveis no processo de produção dos químicos”, ressalta Rodrigo Fagundes, Gerente de Logística da empresa.
A tecnologia implementada contempla a recuperação de água e não gera nenhum tipo de resíduo. Está previsto, inclusive, o aproveitamento da borra de carbono que sobra do processamento das cinzas como substituto do calcário na correção do solo.
Parceira da Oryzasil a Marina Tecnologia trabalha também desenvolve matérias-primas para a fabricação de pneus a partir da cinza da casca do arroz. Fundada em 2009, a empresa situada na Feevale Techpark, em Campo Bom – RS, foi uma das vencedoras do Prêmio Finep Inovação.
(Finep)