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Segurança alimentar requer tecnologia diferenciada para pequenos produtores

publicado: 23/09/2016 11h08, última modificação: 19/10/2018 09h50


Garantia do acesso regular e permanente de todas as pessoas a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente, a segurança alimentar e nutricional demanda tecnologias adequadas a cada dimensão agrícola responsável por satisfazê-la. A percepção é da diretora-técnica do Programa de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), Maria Rita de Oliveira, pesquisadora da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

A contribuição da pesquisa para a segurança alimentar faz parte do tema da 13ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) – "Ciência alimentando o Brasil". A escolha se alinha à decisão da 68ª Assembleia Geral das Nações Unidas de proclamar 2016 como o Ano Internacional das Leguminosas. O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) realiza a SNCT de 17 a 23 de outubro, em todo o país.

Para Maria Rita, o atual modelo nacional de produção alimentícia talvez não consiga, em determinados momentos, assegurar a quantidade mínima de comida a cada cidadão, por conta do enfoque na exportação. "A gente poderia falar de agroindústria, que engloba toda a agricultura, mas alimento de fato, como arroz, feijão e tudo aquilo que o brasileiro come, hoje depende dos pequenos produtores – familiares, campesinos e até indígenas", avalia.

Na visão dela, a ciência precisa refletir sobre seu papel diante dessa realidade. "Pode ser que alguns desses pequenos agricultores não estejam conseguindo eles próprios sobreviver com alimento de qualidade, porque eles precisam de tecnologias adequadas para produzir em um lugar onde não chove ou em um terreno menos fértil. Então, mesmo na pequena agricultura, para uma propriedade menor, você precisa de tecnologia, que a gente poderia chamar de tecnologia social", diz. "Não basta aplicar a assistência técnica do grande produtor ao pequeno. É preciso pensar um programa para a dimensão menor e trabalhar tecnologias junto com eles."

Apoio

Segundo a pesquisadora, os pequenos agricultores demandam orientação para a agroecologia, ou seja, integrar conhecimentos científicos e tradicionais de forma ecológica, multidisciplinar e sistêmica. "Eles precisam aprender a fazer isso, com assistência técnica, insumo e tecnologia", aponta. "Hoje, essas pessoas já produzem para si próprias e para todo mundo, mas podemos melhorar bastante, por exemplo, a qualidade sanitária do abate de frangos e porcos. É preciso estudar e encontrar tecnologias mais adequadas."

Maria Rita define tecnologia, de maneira ampla, como "uma resposta efetiva a um problema enfrentado", já que, em sua visão, "não tem como a gente melhorar a vida do agricultor e a qualidade e a quantidade do alimento sem ciência e tecnologia", de preferência por meio de pesquisa feita "a partir de um diagnóstico da realidade e das necessidades existentes no campo".

MCTIC e Unesp estabeleceram um convênio para construir um centro de ciência e tecnologia em soberania e segurança alimentar e nutricional em Botucatu (SP). "O objetivo dessa iniciativa é fazer a interlocução da universidade com a sociedade", explica Maria Rita. "Temos recurso para identificar, validar e, eventualmente, desenvolver tecnologias."
Ex-coordenadora-geral de Pesquisa e Desenvolvimento da Segurança Alimentar e Nutricional do MCTIC, a pesquisadora Sônia da Costa, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), informa que "o ministério dedica esforços para contribuir com essa demanda social" desde 2001, em atendimento às diretrizes da 2ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI). "Aquele encontro trouxe a desnutrição como uma problemática que suscitava esforços científicos e tecnologias para minimizar tal situação, que na época representava 33 milhões de brasileiros em situação de fome extrema."

De acordo com Sônia, a preocupação se manteve nas edições seguintes da CNCTI, realizadas em 2005 e 2011, e nas duas estratégias nacionais de Ciência, Tecnologia e Inovação (Encti), válidas de 2012 a 2015 e de 2016 a 2019. Desde 2003, o MCTIC destinou à área quase R$ 189 milhões, distribuídos em 27 editais, com apoio a 1.108 projetos, ao todo. A última chamada pública está aberta até 19 de outubro no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e diz respeito à segunda fase do Programa de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional da Unasul.

Fonte: MCTIC