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Rangel Junior, novo presidente da Fapesq-PB, afirma que boas práticas serão respeitadas e melhoradas
Em 1992, Geraldo Baracuhy, o primeiro presidente da Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq-PB), percorria caminhos em busca de recursos federais e estaduais para financiar projetos de pesquisa científica e estabelecer a fundação recém-criada. A Fapesq-PB ainda não tinha uma sede, colaboradores e nenhum edital havia sido publicado. Passados 30 anos e 12 gestores à frente, Antonio Guedes Rangel Junior assumiu a presidência na segunda-feira, dia 23, e o desafio de ampliar uma estrutura fortalecida e permear uma cultura científica na sociedade a fim de gerar inovação tecnológica.
Rangel Junior é professor universitário desde antes a Fapesq-PB ser criada. Dá aulas há 38 anos, sendo 35 na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), onde foi reitor entre 2012 e 2020. Oriundo da área da educação, entende que “nenhuma das ciências sozinhas pode explicar o mundo e, objetivamente, toda e qualquer ciência precisa se amparar nas outras”.
Atualmente, a Fapesq-PB executa editais provenientes da gestão de Roberto Germano – que transmitiu o cargo para Rangel Junior – com recursos próprios e convênios federais, parcerias institucionais com chamadas para Pesquisa Colaborativa Fapesq-PB/ Fapesp, editais institucionais apoiando estudantes egressos da rede pública de ensino, publicação de periódicos, eventos científicos, entre outros; e cooperações internacionais em parceria com o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap).
Mas nem sempre foi assim. Maria José Lima da Silva presidiu a Fapesq-PB entre 2007 e 2009, quando houve dificuldades do Governo do Estado em honrar compromissos com projetos financiados pelo Governo Federal que exigiam a contrapartida estadual, prejudicando inclusive a aprovação de projetos da Paraíba por parte das agências de fomento federais. A problemática também foi enfrentada por Michel François Fossy, presidente entre 2009 e 2011. Com êxito, articulou uma proposta junto à Secretaria de Finanças para a obtenção de recursos para sanar as obrigações. O Governo Estadual, por meio do presidente seguinte, Claudio Furtado, deu continuidade a essas negociações e teve, enfim, os financiamentos em parcerias com as instituições de fomento liberados.
“Felizmente, nós conseguimos avançar. De 10 anos para cá, o Governo do Estado da Paraíba começou a sentir que ciência, tecnologia e inovação é importante para o seu desenvolvimento,” afirmou Maria José. Nessa corrida pela inovação tecnológica, o bastão está nas mãos de Rangel Júnior. O novo presidente vai comandar a fundação a partir de Campina Grande (os dois presidentes anteriores o fizeram com base em João Pessoa) e afirma que vai continuar mantendo o alcance das ações para todo o estado. Ele concedeu uma entrevista exclusiva para o jornal A UNIÃO, publicada a seguir:
- Qual a sua visão sobre a importância da Fapesq-PB?
- Eu diria que é impossível falar da história da ciência e tecnologia no Brasil sem falar da Paraíba, porque tem um paraibano que foi talvez o maior destaque em quase todos os sentido, que foi Linaldo Cavalcante. Quando os estados brasileiros mais desenvolvidos estavam ainda pensando em criar estruturas sobre o assunto, Campina Grande , em 1954, criou a Fundac. Era a Fundação para o Desenvovimento da Ciência e da Técnica.
Eu posso afirmar que o que temos aqui hoje são frutos daquela semente. Nos tempos atuais tivemos também uma mudança de paradigma. O Governo do Estado tem realizado um investimento em ciência e tecnologia que colocam a Paraíba na vanguarda de muita coisa desenvolvida no Brasil. A fundação tem um papel fundamental como um braço da Secretaria de Ciência e Tecnologia, mas com um perfil de fomentar o desenvolvimento da pesquisa da ciência, da tecnologia e da inovação.
- Nesse contexto, quais seus desafios à frente da fundação?
- Eu chego à Fapesq-PB com uma missão gigantesca. Em primeiro lugar, a de respeitar essa história e buscar garantir que as boas práticas sejam respeitadas, mantidas, melhoradas em todos os sentidos, inclusive do ponto de vista do melhor uso possível dos recursos públicos, que são difíceis.
Todos os projetos que estão em evidencia, cada um na sua área específica, tem um papel fundamental. Há uma parceria importante, por exemplo, que envolve a pós-graduação nas universidades paraibanas. Projetos como o Centelha não podem ter qualquer tipo de abalo na sua continuidade.
Além de assegurar a perenidade dessa politica, isso vai garantir também uma tranquilidade para que as pessoas diretamente envolvidas nesses projetos e nessas pesquisas possam ter a segurança de que vão continuar nesse trabalho. Nada em ciência é investimento de curto prazo.
- Embora a ciência tenha estado como nunca presente no dia-a-dia do brasileiro, por causa da covid-19, houve uma campanha de negacionismo muito forte.
- Foi fomentado ao longo dos anos uma cultura de descredenciamento da ciência. Tanto a partir da falta de apoio quanto da negação do conhecimento científico. De colocar o conhecimento científico rivalizando com a crença ou o pensamento dogmático, de modo geral. E isso é um contrassenso gigantesco. Todo cidadão tem seu direito de exercer na vida privada suas práticas espiritualistas ou religiosas. Entretanto, quando se trata de conhecimento científico, ele contribui para a sociedade compreender os problemas e encontrar soluções – ou, pelo menos, poder mitigar os principais problemas.
Os grandes cientistas de toda a história da humanidade foram grandes humanistas. Não se pode pensar a matemática, a física, a química, descoladas da filosofia. É preciso desenvolver na sociedade de modo geral uma compreensão da importância da ciência. Por isso eu entendo que a comunicação tem um papel fundamental nesse processo. Desmistificar no imaginário das pessoas que a ciência “dá pitaco” sobre as coisas.
- Em que áreas da ciência o senhor considera que a Fapesq-PB deve trabalhar?
- Eu terei um grande exito se mantuver todas as politicas existentes. O gestor precisa aperfeiçoar práticas e, logicamente, buscar expandir um olhar acerca de áreas que por ventura não tenham sido ainda atendidas.
Quando se pensa em ciência e tecnologia, muitas vezes as pessoas olham para as areas “duras” – da química, da física, da matemática, das engenharias, essas tecnologias de modo geral. Mas é preciso a gente pensar que existem tecnologias sociais. Arranjos socialmente cosntruídos que não são diretamente ligadas à tecnologia pura – aí entram a economia, a sociologia, a psicologia, a saúde em todos os aspectos.
Algo importante a ser feito é expandir sempre esse olhar panorâmico em todas as áreas do conhecimento onde pode ter investimento, indução e fomento a partir da fundação.
Texto: Márcia Dementshuk e Renato Félix (Assessoria SEC&T)
Foto: Delmer Rodrigues