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Projeto Rio do Peixe promove preservação do patrimônio histórico, cultural e científico na Paraíba

publicado: 24/09/2024 11h54, última modificação: 30/09/2024 11h56
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As primeiras pegadas fossilizadas de dinossauros e gravuras rupestres na Paraíba foram registradas pelo Padre Giuseppe Leonardo, na década de 1970, que realizou importantes trabalhos paleontológicos no Brasil. Seu trabalho abriu portas e deu cientificidade para estudos que são realizados atualmente através do projeto de Atividades de Pesquisa, Educação Ambiental e Patrimonial na Bacia Sedimentar do Rio do Peixe (APEAP).

O projeto, fomentado pela Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior (Secties) em parceria com a Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq), conta com uma equipe multidisciplinar nas áreas de arqueologia, paleontologia, pedagogia, biologia, história e comunicação.

O secretário da Secties, Claudio Furtado, explicou que antes de serem registradas cientificamente, as pegadas eram conhecidas popularmente por serem de animais da região. “As pessoas diziam que eram pegadas de um boi ou de uma ema. O boi seria associado à pegada maior, de um animal herbívoro, enquanto a representação da ema seria justamente a um animal carnívoro, por ter três dedos e se assemelhar ao pé de uma ave. Mas não era nada disso, e sim dos grandes dinossauros do período cretáceo , algo identificado por Giuseppe Leonardo, juntamente com vários colaboradores que fizeram esse levantamento muito importante”.

De acordo com o coordenador geral do projeto, o arqueólogo Juvandi de Souza Santos, o padre foi o primeiro que começou a tratar as pegadas de forma científica. “Apesar de muitos já conhecerem a descoberta, foi Giuseppe Leonardo quem começou a identificar quais dinossauros pertenciam às pegadas. Então devemos a ele e posteriormente ao professor Ismar de Souza da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que também foi um dos pioneiros nas grandes descobertas de fósseis”, disse.

O selo científico dado por Giuseppe nas descobertas, hoje, é o que dá credibilidade aos estudos na bacia sedimentar do Rio do Peixe. Atualmente, o projeto tem como objetivo principal a preservação e difusão do patrimônio pré-histórico e histórico paraibano. Até o momento, foi realizado um levantamento com, pelo menos, 62 sítios paleontológicos e 15 sítios arqueológicos.

Além das atividades de campo, que são fundamentais para a realização e coleta de dados para a pesquisa científica, o Projeto também visa à educação ambiental e patrimonial nas escolas da região, com realização de palestras, atividades lúdicas, exibição de filmes e um museu itinerante que ainda está em fase de implementação.

Principais objetivos

A expectativa é finalizar esta primeira etapa do Projeto em março de 2025, com a realização do 1⁰ Simpósio Paraibano de Arqueologia e Paleontologia em Sousa (PB). O evento contará com palestras, mesas redondas, homenagens e uma visita ao Museu do Vale dos Dinossauros em Sousa.

“Nós pretendemos publicar dois livros. O primeiro foi resultado das pesquisas nos municípios de Sousa, Uiraúna e São João do Rio do Peixe, já o segundo livro almejamos lançar na segunda etapa do Projeto, na qual pretendemos visitar os outros cinco municípios que compõem a Bacia Sedimentar do Rio do Peixe”, disse Juvandi.

Para Claudio Furtado, o projeto irá proporcionar a conservação do patrimônio histórico, cultural e a preservação do patrimônio científico, com a manutenção das pegadas. “Vamos dar condições de acesso a quem vai fazer pesquisas paleontológicas na região e, aproveitando isso, proporcionar à população o contato com essa história. Isso é letramento científico”, afirmou o secretário da Secties.


Como o projeto surgiu?

O projeto de Atividades de Pesquisa, Educação Ambiental e Patrimonial na Bacia Sedimentar do Rio do Peixe (APEAP) faz parte do Complexo Científico do Sertão, que envolve uma série de ações para essa região da Paraíba, a exemplo da ampliação do Monumento do Parque Vale dos Dinossauros, em Sousa; e da criação do Museu de Arqueologia da Paraíba, em Cajazeiras; a construção do Radiotelescópio Bingo, em Aguiar; e da Cidade da Astronomia, em Carrapateira.

“A necessidade de criar esse projeto surgiu de uma demanda da secretaria feita pelo nosso governador João Azevedo que é a questão de ampliar o olhar para o patrimônio do Vale dos Dinossauros. O governador decidiu fazer ações voltadas para a área de ciência e tecnologia e desenvolvimento local do estado na região”, explicou o secretário Claudio Furtado.

O projeto irá culminar na transformação do Parque Vale dos Dinossauros em um Geoparque reconhecido pela Unesco. A iniciativa acontece em oito municípios paraibanos, sendo eles Aparecida, Pombal, Santa Helena, Poço de José de Moura, São João do Rio do Peixe, Sousa, Triunfo e Uiraúna. Contudo, a primeira etapa do projeto acontece nos municípios de Uiraúna, Sousa e São João do Rio do Peixe.


Como o trabalho é feito?

O professor Juvandi explicou que as atividades começaram, inicialmente, com atividades em campo de prospecções arqueológicas e paleontológicas nos sítios, fazendo o processo de catalogação de todas as pegadas evidenciadas. “Para realizar o salvamento desses vestígios temos que pedir autorização da Agência Nacional de Mineração. A conservação de um material arqueológico ou paleontológico só é possível ser feita em laboratório especializado. Naturalmente, os sítios tendem a desaparecer pelos processos erosivos das chuvas e do vento com o passar dos séculos”, disse.

O projeto também conta com a participação de estudantes bolsistas da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Larissa Karla Coutinho, estudante de Pedagogia, realiza ações nas escolas, como palestras e elaboração de atividades para os professores. Aniele de Lima, estudante de Biologia, e Eduardo Bruno, estudante de História, realizam trabalhos no campo e no laboratório.

Eles realizam atividades de campo que lhes permitem explorar sítios arqueológicos e paleontológicos na região da Bacia Sedimentar do Rio do Peixe, sertão da Paraíba. Durante essas expedições, eles localizam fósseis, incluindo restos ou vestígios de animais e vegetais preservados em rochas, microfósseis de organismos invisíveis a olho nu e ictiofósseis, que registram atividades animais como pegadas, rastros, túneis, excrementos e marcas de dentadas.

Para este trabalho, são utilizadas técnicas de fotografia, vídeo, scanner e anotações detalhadas para garantir a captura precisa de todas as informações. No Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da UEPB (Labap), os estudantes realizam o tombamento e registro de materiais arqueológicos e paleontológicos, além da higienização e organização dos materiais para futuras pesquisas, combinando o trabalho prático com estudos literários sobre o tema.

O projeto é desenvolvido tanto em campo, nas regiões dos sítios, quanto no Labap, onde são realizadas atividades de conservação dos achados pré-históricos. As expedições e prospecções ocorrem na Bacia Sedimentar do Rio do Peixe, sendo possível explorar essas localidades apenas quando o rio está seco, sob a orientação do guia local Luiz Carlos, que possui vasta experiência e mais de 30 anos de trabalho na busca de vestígios em sítios paleontológicos e arqueológicos.

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