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Profissão que não requer criatividade sofrerá mudanças dramáticas, diz pesquisador

publicado: 29/09/2016 16h42, última modificação: 19/10/2018 09h50

 

Toda atividade que não envolve a resolução de problemas complexos e não depende de imaginação e criatividade será "dramaticamente" modificada, a ponto de os empregos desaparecerem. A previsão é do pesquisador Silvio Romero de Lemos Meira, referência no país em tecnologia e inovação.

Nesta entrevista à Folha, ele fala do futuro das profissões e dos avanços tecnológicos que estão transformando o universo do trabalho.Folha - Quais profissões serão modificadas pela tecnologia?
Silvio Meira - Tudo que não envolver resolução de problemas complexos que precisem de imaginação, criatividade, do uso de matemática e de ciência, tudo que não precise de auto-interação humana e do entendimento de contexto será dramaticamente modificado por software e digitalização em geral, a ponto de os empregos desaparecerem.
Condução de veículos, por exemplo. Isso, que já foi altamente especializado, está sendo digitalizado numa velocidade grande. Provavelmente, em porcentagem global, virá a informatização da profissão de piloto de avião antes mesmo da do automóvel, porque é mais fácil.

E quais são as atividades mais ameaçadas de extinção?
As que podem ser informatizadas mais rapidamente. Boa parte do trabalho de advogados é pesquisar a jurisprudência e, a partir daí, preparar a síntese dos argumentos que serão usados para defender ou atacar. Já há softwares que fazem isso. É melhor do que pôr um time de advogados para fazer. Não é trabalho de alta complexidade cerebral, mas de busca, organização, correlacionamento. Não precisa ser ministro do STF para fazer.
Há profissões relevantes agora e que vão sumir. Se informatizarmos as ruas, não haverá placas, faróis. O carro não vai estacionar onde não pode, a rua o informará disso. O guarda de trânsito já era.
Imagine informatizar todo o dinheiro. Não há mais dinheiro físico circulando. Se é virtual, as transações ficam registradas. Minha contabilidade é sistêmica. Não tenho mais contador. Desaparece.

Hoje, qual área está mais avançada tecnologicamente?
A de software. As coisas que fazemos seriam inimagináveis há 15 anos. Por exemplo edição de DNA, faceta de engenharia de software aplicada a sistemas biológicos.
A área de inteligência artificial também. O software deve continuar definindo, no médio e no longo prazo, o que a humanidade faz de mais avançado. Se não tem software não faz sentido olhar como coisa avançada.

Que atividades serão imunes?
Segundo estudo da universidade de Oxford, a única profissão sem chance de ser informatizada nos próximos 25 anos é a de dentista. A resposta é sociotécnica: você teria coragem de abrir sua boca para um robô? Precisamos de um grau de confiança em quem vai fazer essa atividade.

Quais as profissões do futuro?
A profissão do futuro é escrever software. Veja a figura do professor criativo, que cria o material, o método. O que repete o material na sala de aula não está no futuro. O que cria, está. Simples assim.

A robotização vai gerar demissões. Há formas de evitar isso?
O que deve ser feito, não por governos, mas por cada um, é entender que a carreira é um longo processo de construção de conhecimento. Se você não estiver aprendendo como sua profissão vai mudar e ser substituída por novos exercícios, fatalmente vai bater no teto da carreira e não terá como ir para outro lugar.

Deve-se permitir em sala de aula o uso de dispositivos?
O problema nunca é a tecnologia, mas as práticas associadas a ela, que podem ou ser um vetor de destruição de tempo, de atenção, ou de engajamento e produtividade. Você está num sushibar e o sushiman faz sashimi na sua frente. Esse uso da faca é fantástico e belo. De repente ele pode surtar e degolar você, com a mesma faca. O problema não é a faca, mas o método, o processo, o fim.

(folhauol.com.br)