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Professores do IFPB se mobilizam para restauração da Academia Paraibana de Poesia

publicado: 29/11/2021 15h04, última modificação: 29/11/2021 15h05
Arquitetos e engenheiros trabalham em projeto para recuperar a sede, no centro histórico de JP, e transformar o local em centro cultural
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DIVULGAÇÃO PROJETO DE REVITALIZAÇÃO DA APP

O centro histórico de João Pessoa aos poucos começa a ganhar uma série de ações que convergem para o espírito da revitalização da área. O Parque Tecnológico Horizontes de Inovação e o centro de inovação do IFPB, ambos com suas implantações em andamento, incluem em seus propósitos atrair o interesse da população para as atividades do Centro. A elas se soma uma mobilização que pretende restaurar o prédio da Academia Paraibana de Poesia, na Rua Barão do Triunfo, e também ressignificá-lo: torná-lo um local de visitação para a população, com muitas atividades.

“É um prédio histórico, tombado, com três pavimentos, mas com bastante precariedade”, diz o professor Cláudio Natividade, do Instituto Federal da Paraíba, que movimentou uma grande turma em prol do prédio e transformou esse trabalho em um projeto de extensão. “A Academia já tem mais de 70 anos de funcionamento, tem bastante peso histórico e cultural”.

Ele foi procurado pelo presidente atual da APP, Frei Rômulo. “Ele me perguntou se a gente não poderia fazer alguma coisa para ajudá-los a revitalizar a Academia”, conta. “Então eu montei uma equipe de arquitetos e engenheiros dentro do IF para a gente fazer uma proposta de revtalização do espaço e transformar não só na sede da Academia, mas também num centro cultural, com locais de encontro, biblioteca, visitação de escolas, café, tecnologia, uma coisa moderna, contemporânea”.

Há um ano e meio esse projeto vem avançando e está na fase de elaboração da proposta arquitetônica. Com ela, vem a estimativa de custos que leva à tentativa de buscar recursos em um fundo do BNDES.

O arquiteto Paulo Peregrino comanda a equipe de arquitetos, completada por Ana Laura Rosas e Janine Holmes. Os três são professores do curso de Design de Interiores do IFPB. “O professor Claudio nos levou para ver o projeto. Fiquei feliz por participar, mas triste pelo estado de conservação do prédio. Foi impactante”, lembra. “O trabalho está em andamento. Por se tratar de um projeto de extensão do IF, a pandemia atrasou um pouco, já que não pudemos trabalhar com os alunos”.

Ele conta que a ideia é ampliar a sede, já que a APP dispõe de uma razoável sobra de terreno nos fundos do prédio histórico. “A gente ainda não tem uma avaliação fechada, mas a ideia é preservar ou resgatar materiais do próprio edifício. A intenção é preservar ao máximo, sobretudo a fachada, que está em boas condições, e ampliar. Internamente, há muitos problemas estruturais que precisam ser observados com atenção”.

Já foi feito um levantamento da parte documental da edificação, e traçado um programa de necessidades através de entrevistas com os usuários da associação. “Estamos começando a conceituar o projeto”, explica. “Já iniciamos a modelagem do edifício e começamos a pensar o desenvolvimento das plantas”.

Captação de recursos já começou

 

Cláudio convocou a irmã, a produtora de cinema Cláudia da Natividade, para comandar a estratégia de captação de recursos. Trabalhando com o universo dos filmes nacionais – sua produtora, a Zencrane Filmes, é a responsável pelo filme “Estômago” (2007), entre outros – , saber navegar no mar turbulento da busca pelo financiamento.

“Eu trabalho com projetos há muitos anos”, conta ela, que comanda a Zencrane há 22 anos. “Já trabalhava com projetos internacionais antes disso, com ONGs internacionais. Toda a minha formação de trabalho vem dessa área, de captação de recursos para a área social e cultural”.

Morando em São Paulo, ela possui um apartamento em João Pessoa e vem regularmente à cidade. Numa dessas, foi levada pelo irmão à Academia Paraibana de Poesia. “Tem um patrimônio imaterial gigantesco lá dentro que está sendo perdido por causa da precariedade do prédio”, alerta. “Isso me deixou com uma dor no coração”.

Ela lembra que a Academia não dispõe de recursos para resolver os problemas estruturais do prédio e a catalogação de seus arquivos: seus rendimentos vêm exclusivamente das mensalidades dos 40 acadêmicos. “Aí veio a ideia de colocar em pé um projeto que pudesse fazer a reestruturação do prédio e tornar esse predio, que está no centro da cidade, um espaço de convívio cultural. Que a gente tivesse espaço de leitura, café, espaço para palestras, para educação de jovens, visitação de escolas. E para formar novos leitores. Se a gente não valoriza essa expressão cultural, como é que vai ter novos leitores?”, pergunta ela.

Pesquisando, ela identificou um fundo do BNDES para a cultura, até pouco procurado por projetos do Nordeste. Um primeiro contato já foi feito, mas a apresentação do projeto mesmo espera a preparação das plantas arquitetônicas. “Com isso a gente consegue ter uma estimativa de custos para apresentar ao banco”, diz.

“Também será bom ter parcerias regionais”, defende. “O projeto se encaixaria num planejamento maior de recuperação do centro histórico, com apoio das políticas públicas municipal e estadual. Mas, para isso, a gente precisa ter projeto”.

Embora isso ainda esteja em análise, ela acredita que o caminho terá que ser uma reestruturação interna da sede. “O prédio está completamente precarizado. Toda a estrutura. Tudo”, conta. “Ficou tão comprometido pela falta de manutenção que é inviável a manutenção. É manter a fachada histórica e repensar um espaço cultural de maneira mais moderna. Aço, vidro, repaginar completamente. Você tem que ter salas amplas, tem que ter luz...”.

Esses detalhes estarão, afinal, na apresentação do projeto ao banco – o que deve acontecer no primeiro semestre do ano que vem.

Academia ganhou sede em 1988

A Academia Paraibana de Poesia foi fundada em janeiro de 1949, tendo como idealizador o linotipista e poeta Manoel dos Anjos. Até a década de 1970, as reuniões eram realizadas nas casas dos poetas acadêmicos. Nessa década, a APP passou a ser hospedada na Associação dos Servidores Públicos do Estado da Paraíba (Aspep).

Foi em 1988 que a Academia ganhou sua sede atual. O prédio foi doado pelo Governo do Estado, em uma ação iniciada pela então presidente Helena Raposo, com intermediação de José Adalberto T. Araújo, então procurador do Estado. “O prédio havia sido loja comercial e tinha sido alugado ao jornal Correio da Paraíba”, conta Jairo Rangel Targiino (com dois “is”, mesmo), atual presidente do Conselho de Norma Estatutária e que também já foi presidente da Academia.

Além de Frei Rômulo na presidência, a APP tem como vice Francisca Vânia. As atividade abertas ao público – uma sessão de declamações no primeiro sábado de cada mês – foram interrompidas com a chegada da pandemia e ainda não voltaram: a previsão de retorno é fevereiro de 2022.

Para Targiino, os pontos que necessitam de maior atenção no prédio tombado pelo Iphaep são o teto, a biblioteca (que fica no térreo) e o memorial (no 1º andar). “Graças ao incentivo e ao apoio do engenheiro Cláudio, a Academia está fazendo esses encaminhamentos. A Academia espera que, com a revitalização do prédio, possa ter melhores condições de fazer atendimentos ao público e principalmente aos estudantes, poetas e escritores”.

Por: Renato Félix