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Produtores de flores de corte retomam a produção na Paraíba
Depois de sofrer prejuízos por causa da pandemia por covid-19, produtores de flores de corte de municípios do Brejo paraibano retomam a produção. Um levantamento feito com o apoio da Secretaria Executiva da Ciência e Tecnologia do Estado da Paraíba (SEC&T/SEECT-PB) demonstrou que vários produtores diversificaram o cultivo, inserindo produtos cuja demanda aumentou nesse período. A SEC&T contribui com o desenvolvimento desse setor a partir de ações que visam a transferência e apropriação da ciência, tecnologia e inovação pela da agricultura familiar em arranjos produtivos locais (APL).
Em 2020 a morte estava nos noticiários, na vizinhança das ruas de Pilões (PB) e nas estufas onde rosas, gérberas ou crisântemos estavam prontos para ser cortados e vendidos. Uma a uma, Lena via as flores morrendo. Maria Helena Lourenço, a Lena, é uma liderança na Cooperativa dos Floricultores do Estado da Paraíba (Cofep). Mesmo desesperada, se controlou para não transferir o sentimento para as colegas. Mas a situação atingiu a cada uma, de um jeito ou de outro: falta de dinheiro, violência doméstica… Retrocesso aos antigos problemas. São 28 famílias associadas que nunca passaram por uma diversidade tão grande, desde o início da cooperativa, há 22 anos.
“Não sobrou nada da produção. Um prejuízo de mais de R$ 200 mil. Eu… Não tinha coragem de ver o colorido se perdendo; junto com as flores ia pro lixo o nosso planejamento para o Dia das Mães, o Dia dos Namorados… ”, contou Lena. As dívidas acumulavam. Faltavam apenas 3 parcelas para a quitação de um financiamento através do Empreender Paraíba, contraído há seis anos para reforma das estufas.
Mas a reviravolta aconteceu e foi tão marcante que Lena citou a data: “No dia 5 de janeiro de 2021 eu chamei as meninas e decidimos nos reerguer. Vimos que o povo estava querendo comer mais alimentos saudáveis, orgânicos e poderíamos plantar hortaliças. Visitamos um distribuidor em Lagoa Nova e ele disse que não dava conta da demanda. Negociamos. Hoje produzimos 10 tipos de hortaliças e ele compra tudo. E agora recomeçamos a plantar flores, focadas no Dia de Finados, uma data de grande consumo de flores de corte”. Mas ainda há muito trabalho a fazer.
A Cofep é pioneira na produção de flores de corte na Paraíba, fundada em 1999, com um histórico de superações, conquistas e vitórias. Karla Cristina de Paiva Rocha, que fez parte da formação, conta que o grupo iniciou com mulheres agricultoras que ajudaram no sustento da família, melhoraram de vida e viram seus filhos irem para a escola, a universidade e próximos a obterem o título de mestre. Hoje há homens trabalhando. “Crescemos, chegamos a manter unidades de produção em Pilões e Areia, e a unidade de distribuição em Guarabira, gerando empregos em três municípios e vendendo para três estados, PB, RN e PE”, disse Karla. É um exemplo dos benefícios do trabalho no setor de flores e um termômetro no mercado paraibano.
Contudo, a falta de informações sobre essa atividade no estado, a necessidade de capacitação e ainda a falta de habilidade de articulação para formar parcerias, prejudicam a produção, a comercialização, os investimentos e, principalmente, a ampliação do mercado, com a entrada de novos produtores ou a abertura de novos pontos de venda. A fim de suprir essas lacunas, a Secretaria Executiva de Ciência e Tecnologia da Paraíba se volta para esse arranjo produtivo local, com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento regional.
O gerente executivo da SEC&T, Daniel Benitez, aponta uma determinante para justificar a escolha desse setor: “Essa razão está incluída na questão de gênero, a inclusão e o empoderamento da mulher. Quase 95% desses trabalhadores na Paraíba são mulheres agricultoras. Tem outros fatores, como a área bem definida de concentração da atividade, no Brejo, e a possibilidade de que a PB ocupe ou recupere o mercado”. Assim, está sendo trabalhada a estrutura desse arranjo desde a base. “Independente de ser familiar ou uma grande empresa agrícola, se o setor não for analisado como cadeia, não se vai articular nada que tenha futuro”, complementa Benitez.
Levantamento de informações revela o potencial do mercado
Dando seguimento ao planejamento da SEC&T, a professora da UFCG e agrônoma Márcia Gondim foi convidada para realizar um levantamento de informações junto aos produtores de flores dos municípios de Areia, Pilões, Serraria e Bananeiras, realizado com o apoio da Prefeitura Municipal de Areia.
No início deste mês de agosto, a professora Márcia Gondim e Laís Barreto, da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Areia, visitaram cooperativas, associações e produtores individuais nesses quatro municípios para identificar as potencialidades, as barreiras e as necessidades.
Segundo Márcia Gondim e Laís Barreto, quem trabalhava com flores de corte sofreu prejuízo. Por outro lado, a demanda por plantas verdes aumentou e os produtores acompanharam, mudando o cultivo para esse tipo de produto, ou hortaliças. Segundo informou Renato Optiz, Diretor de Comunicação do Instituto Brasileiro de Floricultura, durante o lançamento do Boletim Prohort 2021, esse foi o cenário nacional. Mas ainda que a categoria de Flores de corte tenha caído entre 30% e 40% em 2020, o mercado cresceu entre 6% e 7%, em função da alta nas outras categorias que são Flores em vaso, Plantas verdes, Produtos para paisagismo e Gramas. Em 2021 voltará a crescer e chegar aos dois dígitos, como é o padrão no setor, aposta Optiz.
O Brasil conta, atualmente, com cerca de 8 mil produtores de flores e plantas. Cultivam mais de 2.500 espécies com cerca de 17.500 variedades. O mercado de flores é responsável por 209 mil empregos diretos e cerca de 800 mil empregos indiretos.
“A cada semana chegam dois caminhões na Paraíba carregados de flores, vindos de São Paulo, o maior produtor do país, e distribuem em João Pessoa e Campina Grande e dali para todo o interior. Se há mercado, os produtores do estado têm plenas condições de ocupá-lo”, diz Márcia Gondim.
Outra dificuldade no estado é a falta de insumos, como os vasos para produzir as mudas. Os produtores na Paraíba encomendam a uma empresa do Paraná que demora até quatro meses para entregar um pedido. “A articulação para viabilizar a fabricação de vasos é outro ponto em que estamos trabalhando”, revela Daniel Benitez.
Capacitação possibilita expansão dos negócios
A historiadora Gabriela de Freitas Xavier, da SEC&T, fala que na Paraíba encontram-se tanto produtoras mais antigas, como as de Pilões e de Areia - que desde 2004, mais ou menos, produzem flores em vaso, suculentas, cactos e plantas ornamentais e medicinais - quanto as novatas, que se sentiram motivadas a iniciar o negócio vendo como oportunidade o aumento de consumo de suculentas e cactos.
É o caso de Lia, de Serraria. Seu nome não lembra nem de longe o apelido: Maria José Araújo dos Santos, “foi na família, para diferenciar das minhas duas primas que também se chamam Maria José!”. Ela é agricultora, planta várias culturas para consumo familiar e garante um sustento com artesanato. Foi convidada para participar de uma das reuniões deste APL, promovida pela SEC&T e, em junho deste ano, viu pela rede social que teria uma feira livre em Remígio. A feira foi cancelada, mas Lia, com suas amigas, foi até Areia e visitaram uma floricultura onde a proprietária ensinou algumas técnicas, deu mudas e elas compraram plantas para revender em Serraria.
Márcia Gondim se ofereceu para ensinar Lia, deu mudas de suculentas e cactos, vasos, e Lia chamou uma amiga, Joseane Guilherme, para ser sua sócia. Elas estão resgatando as plantas nativas dos jardins das avós, o coração de cristo (calandium), a lágrima de cristo, o cróton… E iniciaram a produção. “Vou participar da capacitação que a Secretaria (SEC&T) está organizando e estou motivada com essa nova produção!”, disse Lia.
Lia se refere ao curso de “Iniciação à produção e comercialização de flores e plantas ornamentais”, planejado pela SEC&T, contando com o apoio do Sebrae, com a coordenação temática das professoras Márcia Gondim e de Jussara Elen Frazão, da UFPB. O curso terá três módulos, o primeiro, de metade de setembro até metade de dezembro; o segundo, de março a junho de 2022; e o terceiro e de agosto a novembro o último módulo. Além de estudos sobre o mercado, o modelo de cooperativas, a presença da mulher na cadeia produtiva de flores, também será ministrada técnicas para formulação do plano de negócios.
Daniel Benitz informou que será firmado um convênio de cooperação técnica com o Governo da Colômbia através do Serviço de Ensino Nacional (SENA), para a capacitação dos produtores. A Colômbia é o segundo país no mundo em produção de flores de corte, e oferece cursos online à distância. E em dezembro deste ano está prevista a realização de uma feira de flores no Espaço Cultural, reunindo produtores e produtoras da Paraíba.
Fotos: Arquivo dos produtores
Texto: Márcia Dementshuk, assessora da SEC&T