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Pesquisadores da Paraíba desenvolvem tecnologia de ponta para detecção de bebidas adulteradas com metanol

publicado: 03/10/2025 10h00, última modificação: 07/10/2025 13h39
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Os casos recentes de intoxicação em pessoas por metanol em bebidas, registrados em Pernambuco, São Paulo e mais recente no Distrito Federal evidenciou a urgência de soluções eficazes para proteger o consumidor. Uma tecnologia inovadora desenvolvida por pesquisadores da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e Universidade Federal da Paraíba (UFPB) oferece uma alternativa rápida, sustentável e altamente precisa para identificar metanol e outras fraudes em bebidas alcoólicas. O projeto conta com o financiamento do Governo do Estado por meio da Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq).

A plataforma analítica integrada foi descrita nos artigos científicos “Um método verde para autenticação de aguardente de cana-de-açúcar e previsão de densidade e teor alcoólico com base em espectroscopia de infravermelho próximo e ferramentas quimiométricas” (Food Research International, 2023), “Autenticação não destrutiva de Cachaças do Brejo Paraibano baseada em espectroscopia MIR” (Food Chemistry, 2025) e “Quantificação do teor alcoólico e identificação de fraudes em cachaças tradicionais por espectroscopia NIR” (Food Chemistry, 2025).

Baseada em Espectroscopia de Infravermelho Próximo e Infravermelho Médio (NIR/MIR) e modelagem quimiométrica, a solução dispensa reagentes, reduz custos e entrega resultados em minutos, alcançando até 97,3% de precisão na detecção de adulterações, alta confiabilidade na medição do teor alcoólico (erro ~1,8% v/v), além de rastreabilidade de origem com 100% de especificidade (NIR) e 98,4% de eficiência (MIR). O resultado é um controle de qualidade revolucionado e apresenta mais segurança, conformidade regulatória e confiança para produtores e consumidores de cachaça e outras bebidas.

A pesquisa é coordenada pelo Prof. Dr. David Douglas, vinculado ao Programa de Pós-graduação em Química (PPGQ) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e pesquisador de desenvolvimento técnico do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fapesq, em colaboração com os Profs. Drs. Railson de Oliveira Ramos e Germano Veras (PPGQ-UEPB), Dr. Felix Brito (PPGCA-UEPB) e com a participação das Profas. Dras. Taliana Kênia A. Bezerra (UFPB), Noemi Nagata (UTFPR) e Tatiane Luiza Cadorin Oldoni (UFPR). A solução emprega dispositivos capazes de identificar adulterações em poucos segundos, prontos para uso em campo, na indústria e em ações de fiscalização.

O estudo vem sendo desenvolvido há cerca de dois anos, a partir da aprovação, no EDITAL 006/2020 – PDCTR-PB 2020 (MCTI/CNPq/Fapesq-PB), 2ª Rodada, dos projetos “Transferência de Tecnologias Portáteis de Baixo Custo para Identificação da Origem Geográfica em Alimentos e Bebidas Paraibanas” e “Desenvolvimento de Automação e Instrumentação Analítica Empregando Visão de Máquina para o Controle de Qualidade e do Processo de Produção da Cachaça Paraibana”.

O apoio da Fapesq (R$ 20 mil em cada projeto) foi decisivo não apenas como fomento financeiro, mas como vetor de impacto sistêmico. Viabilizou prototipagem rápida, bolsas e treinamento de estudantes, integração universidade–setor produtivo–fiscalização, criação de protocolos reprodutíveis para inspeção e elevação do patamar tecnológico da cadeia da cachaça, com reflexos em conformidade sanitária, rastreabilidade e competitividade regional, afirmou Railson Ramos.

O pesquisador destaca ainda o papel do CNPq no custeio de bolsas de estudo, garantindo continuidade das equipes e formação de recursos humanos qualificados, e da UEPB pela disponibilidade de infraestrutura laboratorial, sem a qual não seria possível conduzir ensaios, validações e testes em ambiente controlado.

Agora, os pesquisadores estão finalizando instrumentos portáteis de baixo custo baseados em espectroscopia NIR e imagens digitais para uso em linha de produção. O grupo expandiu a pesquisa para tecnologias capazes de diferenciar e quantificar múltiplos adulterantes e formas de alteração (da adição de substâncias ilícitas à substituição por insumos mais baratos), e avançou para uma nova fase com sistemas sensoriais híbridos, narizes e línguas eletrônicas, em desenvolvimento no Laboratório de Instrumentação Industrial da UEPB (LINS-UEPB), sob a coordenação de Railson Ramos, em colaboração com a Universidad Nacional del Sur (Argentina).