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Pesquisa identifica resistências de carrapatos bovinos a pesticida

publicado: 31/10/2018 15h23, última modificação: 31/10/2018 15h23


Um estudo feito por pesquisadores do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociência da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor, em Eldorado do Sul (RS), identificou mecanismo de resistência do carrapato bovino à ação de ivermectina, pesticida mais usada no combate às infestações por carrapato. O trabalho foi publicado na Scientific Reports e é resultado de pesquisa que conta com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

A importância desse estudo está relacionada ao destaque que a carne bovina tem para a economia brasileira. O Brasil é o maior exportador mundial dessa carne, mas poderia contar com vendas ainda mais expressivas não fosse a perda anual causada por parasitas. As perdas com mortalidade, queda de peso, redução na fertilidade e perda de produtividade provocadas por parasitas equivalem a mais do que o dobro de tudo o que é exportado.

O controle do carrapato bovino é feito por meio da aplicação de pesticidas, o que conduz, invariavelmente, a seleção de linhagens resistentes. Hoje, no Brasil, o carrapato bovino apresenta resistência, em maior ou menor grau, a todos os pesticidas comerciais empregados no controle da praga.

De acordo com um dos pesquisadores envolvidos nesse estudo,Guilherme Klafke, é importante entender como a resistência ocorre.

Segundo ele, a resistência aos pesticidas, incluindo os carrapaticidas e inseticidas, nada mais é que uma resposta evolutiva do agente que se quer controlar - carrapatos ou insetos - contra sua eliminação. "O tratamento com o pesticida elimina aqueles indivíduos da população que são suscetíveis, favorecendo a manutenção daqueles que são resistentes. Quanto maior o número de aplicações de determinado produto, mais indivíduos resistentes são selecionados até que finalmente o produto não funciona mais, levando a falhas de controle", explicou.

Guilherme aponta, ainda, que o manejo da resistência aos carrapaticidas depende de um diagnostico da situação, ou seja, é preciso saber quais são os produtos que os carrapatos já desenvolveram resistência, assim evitar o seu uso. No Brasil existem seis classes de carrapaticidas disponíveis comercialmente para o controle do carrapato bovino (Rhipicephalus microplus). São eles: piretróides, organofosforados, amitraz, fipronil, fluazuron e lactonas macrocíclicas (onde está incluída a ivermectina).

O especialista explica que, para diagnosticar a resistência, o produtor conta com exames laboratoriais, conhecidos popularmente como "biocarrapaticidogramas" que são realizados por alguns laboratórios de referência no Brasil como o Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor, da Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul (IPVDF), o Instituto Biológico de São Paulo e a Embrapa (Juiz de Fora, MG e Campo Grande, MS). "Uma vez que se sabe quais são os produtos mais eficazes, se monta a estratégia de controle para minimizar o uso de aplicações de produtos, favorecendo uma seleção mais lenta da resistência", afirmou.

O carrapato bovino é um parasita bem adaptado às condições climáticas do Brasil, distribuídos praticamente em todo o território nacional durante o ano todo. Fazem de 4 a 5 gerações anuais e é capaz de produzir infestações importantes em um número grande de bovinos em uma propriedade. Ele tem duas fases distintas de vida: a livre na pastagem e a parasita no hospedeiro que dura 21 dias. A fêmea sempre procura um local bem escondido para fazer a postura dos ovos, que levam de 30 a 70 dias dependendo da temperatura e da umidade do local. "Uma vez cumprida sua missão, a fêmea morre. Os ovos eclodem e as larvas sobem até a ponta das folhas, onde ficam à espera do animal. Quando o bovino aparece, ela se agarra em seu pelo e busca as melhores regiões de seu corpo para se fixar", diz o especialista.

Sete dias após se fixar no animal, a larva se transforma em ninfa. Com mais sete dias, já é um adulto. As fêmeas sugam cada vez mais sangue e copulam com os machos. Caem novamente no solo e o ciclo recomeça.

Esse estudo é parte de um projeto de pesquisa financiado pelo Edital Universal 2013 (478477/2013-9) com intitulado Caracterização de mecanismos de resistência em isolados de Rhipicephalus microplus multirresistentes à acaricidas. O projeto de pesquisa resultou em outras duas publicações. A primeira, similar a este estudo, que trata da atividade de enzimas detoxificantes em carrapatos expostos ao fluazuron. E outra que trata da situação da resistência múltipla a carrapaticidas no estado do Rio Grande do Sul.

Com informações da Agência FAPESP