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Mulheres Inovadoras

Pesquisa fortalece o Arranjo Produtivo Local do Mel na PB

publicado: 11/03/2024 15h42, última modificação: 12/03/2024 15h51
Projeto conta com apoio do Governo do Estado, por meio da Secties e Fapesq
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Quem são as mulheres que têm feito a diferença na Ciência e Tecnologia da Paraíba? Marta Suely  Madruga, professora e doutora em Ciência de Alimentos, está na área acadêmica há mais de 40 anos, e é um dos muitos exemplos de mulheres que inovam no Estado. Com formação no exterior, ela escolheu a Paraíba para ser alvo de seu trabalho, voltado para a área de produtos de origem animal. Atualmente, coordena uma pesquisa que fortalece a indústria do mel no Estado, pesquisando novas formas de utilizar o produto.

Além disso, três grandes projetos são desenvolvidos no Laboratório de Alimentos, no Departamento de Química, na Universidade Federal da Paraíba, com financiamento por órgãos de fomento por meio da Secretaria de Ciência e Tecnologia, Inovação e Ensino Superior (Secties), via Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq-PB). As pesquisas seguem a linha de aproveitamento do resíduo, o que sobra da produção: as cascas do café, o abate de animais e frutas.

O mel é objeto de pesquisa de um projeto que integra o Pronex, o Programa de Apoio aos Núcleos de Excelência (CNPq/Fapesq), vinculado à Secretaria de Ciência e Tecnologia, Inovação e Ensino Superior (Secties). Ele é realizado pelo grupo de pesquisa do laboratório de Análise Química de Alimentos, do Departamento de Engenharia de Alimentos, vinculado à pós-graduação em Alimentos, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

É um projeto nacional que conta com participantes de todo o Brasil, do Pará, do Amazonas, do Ceará, da Bahia, do Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e do Mato Grosso. E na Paraíba, professores da UFPB, UFCG de Bananeiras e Campina Grande. É um leque de 15 grupos de pesquisadores e que envolve também o apoio da Associação Abelhas, uma associação nacional que é responsável pelo fornecimento do mel para a pesquisa. Conta com o apoio do Cooperar do Governo da Paraíba que tem financiamento Banco Mundial, no sentido da aproximação dos produtores.

Segundo a definição de Marta Madruga, o trabalho realizado pelo grupo coloca uma espécie de lupa sobre essa substância adocicada, para descortinar as moléculas e entender o “poder” desse alimento. Uma característica singular deste grupo é que ele é formado só por mulheres.

Mas o esforço de pesquisa ultrapassa o universo acadêmico e tem o propósito de alavancar a atividade apícola na Paraíba. “Estamos com o objetivo de valorizar o mel produzido na Paraíba; saber o que ele tem de bom. Com a pesquisa temos muita condição analítica de entender. Já coletamos mais de 60 amostra de mel. E podemos saber qual a principal florada de cada região e os benefícios para a saúde humana. Por exemplo, o mel de angico, o mel de marmeleiro”, explica a pesquisadora.

O grupo está trabalhando na criação de um padrão de identidade da qualidade para o mel de abelha das cooperativas do Estado da Paraíba, principalmente na região do Sertão. “Dependendo do avanço vamos cobrir outras regiões, talvez, se for possível coletar amostra do Estado todo para que a gente analise totalmente cada produto.

Além disso, as pesquisadoras irão preparar um treinamento para os produtores na parte analítica, para atender as especificações do Ministério da Agricultura e Pecuária, a fim de poder comercializar. E capacitar com relação ao controle de qualidade do mel. “Já se criou a cultura que o mel bom é o mel de outro estado. Mas isso é um erro. O objetivo é o mel do Estado da Paraíba, o arranjo produtivo do mel. Agregar valor, demonstrar como o produtor vai explorar seu mel, usando uma e outra propriedade, porque existe um um produto que é bem interessante”, ressalta Marta Madruga.

O trabalho envolve, ainda, a investigação sobre o mel da abelha sem ferrão e com ferrão. O resultado são dois produtos diferentes. “A abelha com ferrão produz o mel em favo e a abelha sem ferrão ela produz o mel em potes. Se você abrir a colméia vai ver uns pontinhos; a abelha com ferrão ela produz uma quantidade muito grande de mel e a sem ferrão, é pouquíssimo”, salienta a pesquisadora.

Outro produto que está emergindo a partir do grupo de pesquisa é uma bebida fermentada A pesquisadora explica: “Tem mel de coloração mais clara e mais vendável, e tem o mel mais escuro, que o pessoal não quer comprar. Estamos fazendo uma pesquisa para aproveitar esse mel escuro. Vamos mostrar um nicho de aproveitamento para esse mel fazendo naturalmente um processo de fermentação e obter uma bebida fermentada, um hidromel. E esse hidromel poderá ser comercializado como uma outra linha de produtos”.

Além do mel, a pesquisadora destaca como referência na Paraíba os nichos produtivos da cachaça e do leite de cabra. Com a presença de diversos engenhos, inclusive os menores, a produção da cachaça ganha força no estado.

Mulheres na pesquisa

Além da professora Marta Madruga, a pesquisadora Taliana Bezerra também coordena o grupo. Elas representam um universo feminino de pesquisadoras na universidade em um curso onde a maioria dos estudantes são mulheres. O curso de Engenharia de Alimentos abre maior curiosidade das meninas, atraídas pelo que está além das aparências e odores do cozimento.

“Entrar na pesquisa é um desafio. Você vai trabalhar sábado, domingo, de noite, não vai ser um horário simples. Mas você vai abrir muitas portas, você tem que ter disponibilidade, tem que ter curiosidade, questionamento; tentar entender os porquês e fazer o diferente. O que faz as pessoas se sobressaírem é um diferencial, é a dedicação. E a pesquisa é muito enriquecedora, você traz muita amizade, dá oportunidade de viajar e conhecer novos ambientes”, incentiva a professora Marta Madruga.

Quando Marta Madruga decidiu fazer um doutorado, no Brasil todo havia cerca de 2 mil pesquisadores com doutorado no exterior. Eram poucos programas para cursar em outros países e muito competitivo. “O desafio foi quando eu voltei. Estudei na Inglaterra e trabalhei numa área muito de ponta, que foi voláteis, e quando eu cheguei aqui não tinha o equipamento, então não tinha como eu trabalhar com essa área.”

A professora se dedicou à formação de estudantes. “Lapidar pessoas e modificar a vida das pessoas é uma satisfação. Sempre tem pessoas que querem aprender. Agora, ter a condição financeira para manter a estrutura, tudo funcionando, é difícil. A gente acha que é um mar de rosa, mas não é bem assim. Você tem que criar principalmente a sua condição de trabalho, fazer manutenção. A gente não tem um fluxo constante de dinheiro.”

Texto: Iluska Cavalcante e Márcia Dementshuk (Secties)

Fotos: Mateus de Medeiros