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Pesquisa científica e novas tecnologias revolucionaram a agricultura brasileira

publicado: 14/09/2016 16h17, última modificação: 19/10/2018 09h50


Em 50 anos, o Brasil saiu da condição de insegurança alimentar para uma agricultura pujante. Se, nos anos 1950, a seca no Nordeste e as terras consideradas improdutivas do Cerrado limitavam a produção agrícola, hoje, o país é o segundo maior exportador de alimentos do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. E uma projeção da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) coloca o Brasil na liderança em 2024. Tudo isso só foi possível graças à ciência e tecnologia.

"Houve um salto muito expressivo da agropecuária brasileira. A nossa agricultura é baseada em ciência. Chegamos a esse patamar por conta da pesquisa agropecuária. Houve investimentos significativos para que chegássemos a esse ponto, e é fundamental que continuemos investindo em pesquisa para seguir essa trilha", afirmou o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Ladislau Martin Neto.

A contribuição da ciência para a produção de alimentos e a segurança alimentar é o tema da 13ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia que o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) realiza entre 17 e 23 de outubro em todo o país.

"A ciência e a tecnologia têm um papel muito importante dentro do desenvolvimento agrícola. É com pesquisa que você melhora a produtividade e consegue alimentos com maior qualidade para a população. Nós, aqui no MCTIC, apoiamos a formação de recursos humanos para a ciência, e a agricultura é parte do nosso escopo. O CNPq apoia pesquisas na graduação e na pós-graduação, e muitos desses estudantes têm atividades de pesquisa voltadas para a agropecuária", disse o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento, Jailson de Andrade.

Pesquisa revolucionária

A pesquisa científica foi fundamental, por exemplo, no desenvolvimento da tecnologia de fixação biológica de nitrogênio no solo. O método inovador da engenheira agrônoma Johanna Döbenreiner (1924-2000), tcheca naturalizada brasileira, consiste na inserção de bactérias Rhizobium em sementes para que os organismos celulares sirvam como uma espécie de adubo natural. A técnica permitiu que o solo do cerrado, de elevada acidez, se tornasse um terreno fértil. Essa expansão da fronteira agrícola revolucionou a agropecuária brasileira. O trabalho, que começou com a soja, hoje se estende para outras culturas. O método inovador que transformou o cerrado em área produtiva tornou o cultivo mais barato e natural, uma vez que substituiu o uso de fertilizantes nitrogenados – um insumo caro e poluente.

"Esse processo gera uma economia anual de US$ 10 bilhões apenas na cadeia da soja, além de todos os impactos ambientais positivos da não utilização da adubação nitrogenada. O orçamento anual da Embrapa é de US$ 1 bilhão e, com a utilização de uma única tecnologia, conseguimos pagar o funcionamento da cadeia de pesquisa por dez anos", explicou Martin Neto.

A tecnologia garantiu a Johanna Döbenreiner um assento na Academia de Ciência do Vaticano, além de uma indicação para o Prêmio Nobel de Química em 1997.

Mais com menos

Um dos trunfos da agropecuária brasileira é a produtividade. Segundo levantamento do Ministério da Agricultura, cada hectare semeado no Brasil é capaz de produzir até três toneladas de alimentos. Na década de 1990, esse valor era de uma tonelada/hectare. Nesse período, o incremento da produção foi de 250%, saltando de 60 milhões de toneladas por safra para 250 milhões de toneladas. A área plantada, porém, cresceu em um ritmo muito menor: 50%.

Isso só foi possível com a incorporação de diferentes tecnologias ao trabalho no campo. A biotecnologia, a nanotecnologia e as tecnologias da informação e comunicação (TICs) foram fundamentais para melhorar a produtividade do agronegócio. Os usos são dos mais diversos. Vão desde a modificação genética de sementes até o uso de drones para o monitoramento de plantações. Há também a utilização em larga escala da Internet das Coisas (IoT) em máquinas agrícolas, que permitem ao agricultor monitorar em tempo real as condições do solo durante a semeadura ou a colheita.

"O uso de novas tecnologias nos permite produzir mais usando menos área e menos recursos naturais. Elas são aliadas da agropecuária. Um dos exemplos é o melhoramento genético, mas há também o desenvolvimento de insumos e de máquinas agrícolas e ferramentas de gestão da produção. São tecnologias convergentes que, sem dúvida, são decisivas e serão muito mais no futuro do agronegócio brasileiro", enfatizou Ladislau Martin Neto, da Embrapa.

Fonte: MCTIC