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ARTIGO CIENTÍFICO - DA CIÊNCIA PARA VOCÊ
Pesquisa avalia a qualidade dos ambientes aquáticos na Paraíba

Autora: Franciely Ferreira Paiva (Doutora em Ecologia e Conservação pela UEPB. Atuação: Pesquisadora de pós-doutorado no Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação da UEPB
Orientadora: Joseline Molozzi (Professora na UEPB, coordenadora do Laboratório de Ecologia de Bentos, especialista em Ecologia de Reservatórios e Estuários, Biomonitoramento e Qualidade da Água.
As mudanças no uso e na ocupação da terra, como a substituição de vegetação por áreas de agricultura, pastagem ou ocupação humana, são um dos principais motivos da perda de biodiversidade e da degradação do meio ambiente, especialmente nos ecossistemas aquáticos. Para avaliar a qualidade dos ambientes aquáticos, os macroinvertebrados bentônicos são utilizados como indicadores. Eles são pequenos organismos que vivem no sedimento de corpos aquáticos e reagem rapidamente às mudanças nas condições ambientais. Diante disso, este estudo analisou como diferentes formas de uso da terra afetam, de maneira direta e indireta, a diversidade de táxons (diversidade taxonômica) e das funções (diversidade funcional) que os macroinvertebrados bentônicos desempenham, além de avaliar a quantidade de biomassa (produção secundária) que eles produzem. A pesquisa foi feita em seis reservatórios do semiárido brasileiro, entre os anos de 2014 e 2019. Essa pesquisa contou com o apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelos projetos CNPq/MCTI 446721/2014–0 e CNPq/ MCTI 428602/2018–5, e da Fapesq pelo projeto PELD/RIPA (PELD/RIPA – nº 01300.003021/2021 - 06, FAPESQ/PELD nº 21/2020).
A pesquisa foi conduzida em seis reservatórios localizados nas bacias dos rios Piranhas-Açu (Sabugí, Cruzeta e Passagem das Traíras) e Paraíba (Cordeiro, Sumé e Poções), com coletas realizadas em 2014 e 2019. Foram utilizados dados de sensoriamento remoto para classificação do uso e ocupação da terra em zonas ripárias (50 m das margens), além de análises físicas e químicas da água e amostragens da macrofauna bentônica. A modelagem por equações estruturais (SEM) foi aplicada para identificar relações diretas e indiretas entre LULC, variáveis ambientais e resposta biológica.
As classes de uso e ocupação da terra com maior impacto nos reservatórios foram solo exposto, vegetação aberta e ocupação humana. Essas categorias aumentaram significativamente os níveis de sólidos totais dissolvidos, nitrogênio inorgânico dissolvido e salinidade, ao passo que diminuíram o volume de água disponível. A floresta ripária teve papel importante na redução do fósforo total, mas surpreendentemente apresentou correlação negativa com a diversidade taxonômica, possivelmente devido à seca extrema e aos múltiplos usos de impactos antrópicos nas margens dos reservatórios. Foram identificados 41 táxons de macroinvertebrados bentônicos, com predominância de Chironomidae generalistas e tolerantes à poluição, como Tanytarsus e Goeldichironomus. A diversidade taxonômica (índice de Simpson) e funcional (índice de Rao) não variaram significativamente entre os anos. No entanto, a produção secundária foi maior em 2014, ano com maior concentração de nutrientes e turbidez. Isso indica que a eutrofização favoreceu a biomassa de organismos oportunistas. O uso antrópico das margens influenciou fortemente a estrutura da comunidade bentônica. A ocupação humana reduziu o volume de água e elevou a salinidade, enquanto solo exposto e vegetação aberta aumentaram os sólidos dissolvidos e o nitrogênio. A produção secundária foi negativamente impactada por pastagem, salinidade e sólidos dissolvidos, mas positivamente associada a nutrientes como fósforo e amônia, refletindo que a produtividade aumentada está relacionada à dominância de espécies tolerantes. As áreas florestadas se correlacionaram negativamente com a diversidade taxonômica. Isso pode ter acontecido em virtude que a vegetação pode liberar matéria orgânica e nutrientes, exacerbando a eutrofização em ambientes já impactados. Adicionalmente, a seca prolongada e a intensa pressão antrópica podem ter neutralizado os benefícios esperados da vegetação ripária.
Conclusões
Os resultados destacam a importância de se considerar múltiplos fatores, como o uso e ocupação da terra, volume de água e variações climáticas, na gestão de reservatórios tropicais em regiões semiáridas. A conservação da vegetação ripária e a limitação de usos antrópicos próximos às margens desses ecossistemas são essenciais para a manutenção da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos. Estratégias de manejo integrado são urgentes para mitigar os efeitos cumulativos do uso da terra e das mudanças climáticas sobre os ecossistemas aquáticos.
Minicurrículo de Franciely Paiva
Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Mestrado e Doutorado em Ecologia e Conservação pela UEPB. Atuação: Pesquisadora de pós-doutorado no Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação da UEPB, membro do Laboratório de Ecologia de Bentos da UEPB, com foco em ecologia de macroinvertebrados bentônicos e qualidade ambiental de ecossistemas aquáticos.
Minicurrículo de Joseline Molozzi
Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões Erechim. Mestrado em Engenharia Ambiental e Doutorado em Ecologia pela UFMG, com estágios na Universidade de Coimbra e Universidade de Murcia. Atuação: Professora na UEPB, coordenadora do Laboratório de Ecologia de Bentos, especialista em ecologia de reservatórios e estuários, biomonitoramento e qualidade da água.
O estudo contou também com a participação de:
Dalescka Barbosa de Melo
Formação: Licenciatura em Ciências Biológicas pela UEPB. Mestrado em Ecologia e Conservação pela UEPB. Atuação: Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação da UEPB, com experiência em diversidade funcional e taxonômica de macroinvertebrados bentônicos.
Lucianna Marques da Rocha Ferreira
Formação: Bacharelado e Licenciatura em Ciências Biológicas pela UEPB. Mestrado em Biologia Vegetal pela UFPE e Doutorado em Recursos Naturais pela UFCG. Atuação: Pesquisadora de pós-doutorado da Universidade Federal de Campina Grande, com atuação em ecologia vegetal, conservação e gestão de recursos naturais.
Juliana dos Santos Severiano
Formação: Bacharelado e Licenciatura em Ciências Biológicas pela UFAL. Mestrado e Doutorado em Botânica pela UFRPE. Atuação: Professora visitante na UEPB, atuando no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação.
Marina Dolbeth
Formação: Doutorado em Biologia pela Universidade de Aveiro, Portugal. Atuação: Pesquisadora no CIIMAR e na Universidade de Aveiro, com foco em ecologia marinha, biodiversidade e funcionamento de ecossistemas aquáticos.