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Pele impressa em 3D pode substituir testes em animais

publicado: 21/05/2018 10h15, última modificação: 19/10/2018 09h56

 

Pele humana reconstituída em impressoras 3D pode ter importantes utilidades como a avaliação toxicológica ou de eficácia de substâncias aplicadas topicamente. Essa é a conclusão da pesquisa da bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e doutoranda no Instituto Politécnico Rensselaer, em Nova Iorque (EUA), Carolina Motter Catarino.

O método consiste, primeiramente, na extração de células de amostras de pele provenientes de cirurgias plástica ou postectomia. A seguir, as tintas biológicas que serão usadas na impressão da pele são produzidas por meio de mistura de proteínas presentes na pele humana, tais como o colágeno tipo I e as células previamente isoladas (fibroblastos, queratinócitos e melanócitos). Depois de impressas, as amostras de pele são mantidas em incubadora por cerca de 14 dias para diferenciação das células. Após esse período, a pele apresenta estrutura semelhante à pele humana.

Essa criação permite substituir o uso de animais em testes que avaliam, por exemplo, reações adversas de substâncias usadas em maquiagens e outros produtos químicos. E até com melhores resultados, aponta a pesquisadora. Segundo Carolina, a pele animal possui diferenças fisiológicas em relação à pele humana, e podem gerar resultados que posteriormente não são observados em humanos ou até mesmo não antecipar possíveis efeitos adversos. "Essas diferenças podem ser observadas no número de camadas da pele e na concentração de folículos capilares e glândulas sudoríparas. Essas características influenciam a forma e a velocidade que uma substância é absorvida através da pele, como ela interage com as células das camadas inferiores da pele, e a quantidade que poderá alcançar a circulação, podendo resultar ou não em efeitos sistêmicos", explica Catarino.

A pesquisa de Carolina já rendeu a ela uma premiação da empresa britânica de cosméticos Lush, em novembro de 2017. O prêmio The 2017 Lush Prize promove cientistas que trabalhem em prol do fim do uso de animais em pesquisas que envolvem testes de produtos químicos. Para Catarino, o recebimento da premiação significa o reconhecimento pelo seu esforço e dedicação na pesquisa em métodos alternativos de testes químicos. "Esse prêmio criou oportunidades para divulgar não apenas o meu projeto do doutorado, mas a pesquisa brasileira e todo o conceito de método alternativos ao uso de animais na pesquisa e na indústria", afirma a cientista.

Métodos Alternativos

Quanto à possível implementação de métodos alternativos aos testes em animais no Brasil, a cientista afirma que o país seguiria a tendência de paises desenvolvidos. "Nos países europeus, a comercialização de produtos testados em animais é vetada. Assim, a implementação desta mudança no Brasil significaria não apenas o atendimento à demanda ética da população, mas estaríamos seguindo a tendência mundial de substituição de modelos animais. Além disso, a adoção de tais métodos significaria que empresas de cosméticos brasileiras poderiam comercializar seus produtos em países da União Europeia, o que possibilitaria a expansão de seus mercados", afirma a cientista.

Mulher e Ciência

Atualmente, segundo dados do CNPq, cerca de 76% dos cientistas nível sênior que recebem bolsas de pesquisa no país são homens. Para Catarino, a falta de regulamentação que assegurem as mulheres em programas de pós-graduação torna-as suscetíveis a abandonar a pesquisa cientifica. "Em outras carreiras, as mulheres têm direitos assegurados por lei em relação a gestação. Soube de casos de colegas que além de não poderem tirar uma licença maternidade de mesma duração que nas demais profissões, também tiveram suas bolsas suspensas nesses meses", conta.

Em seu departamento e grupo de doutorado, as mulheres representam apenas 30% dos alunos. Apesar de nunca ter tido problemas para desenvolver seu trabalho em nenhuma situação, e nunca ser desrespeitada por ser mulher, a cientista que o machismo ainda está presente no campo da pesquisa cientifica. "Ainda há muito machismo no meio acadêmico, mas acredito que isso esteja mudando aos poucos, e que através do desenvolvimento de um bom trabalho provamos que qualidade e capacidade não estão atreladas a nenhum gênero específico. Acredito que as mulheres podem oferecer uma nova perspectiva sobre diversos assuntos e promover uma maior interdisciplinaridade de projetos", diz Catarino.

(CNPq)