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Paraibana é laureada com o Prêmio Jovem Pesquisador

publicado: 04/12/2023 16h58, última modificação: 04/12/2023 17h01
O trabalho abordou desde planejamento e gestão, até proteção de mananciais e riscos de intoxicação por cianotoxinas
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O que impulsiona as florações de Raphidiopsis raciborskii e as concentrações de saxitoxinas em reservatórios do semiárido tropical? Esse foi o tema do trabalho que rendeu à estudante de doutorado da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Ranielle Daiana dos Santos Silva, o 1º lugar no Prêmio Jovem Pesquisador no XXV Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos e 1º Forum Latinoamericano da Água, realizados em Aracaju (SE), de 19 a 24 de novembro.

Ranielle é doutoranda do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD RIPA - PPGEC/UEPB/Fapesq). O programa conta com apoio do Governo da Paraíba, por meio de edital da Secretaria da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior (Secties) e Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq). As duas ganhadoras do prêmio são mulheres, a segunda colocada foi Thais Fujita (USP).

“Para mim foi uma grande satisfação ter nosso trabalho reconhecido em um evento nacional direcionado a recursos hídricos, principalmente por poder levar os resultados da nossa pesquisa a um público diverso, e poder transmitir a mensagem da necessidade do manejo adequado dos nossos corpos hídricos, para assim poder garantir segurança hídrica evitando os riscos de intoxicação às populações mais vulneráveis que não têm acesso à água potável”, disse Ranielle.

O trabalho apresentado foi desenvolvido com aspecto em ecologia de populações (com cunho aplicado) e abordou desde planejamento e gestão, até proteção de mananciais e riscos de intoxicação as cianotoxinas em caso de consumo da água não tratada. O estudo faz parte da tese de doutorado de Ranielle, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação, inserido no Projeto Rio Paraíba Integrado (PELD/RIPA), financiado pela Fapesq/UEPB/CNPq.

O estudo avaliou os fatores ambientais que intensificam a biomassa da cianobactéria Raphidiopsis raciborskii e sua relação com os níveis de saxitoxinas, bem como os riscos de intoxicação por esta cianotoxina em reservatórios do semiárido tropical. Os resultados do trabalho mostraram que a biomassa da espécie e os níveis de saxitoxinas estiveram relacionados, sendo o fósforo principal promotor da biomassa da espécie, e consequentemente, de forma indireta com as saxitoxinas.

Ao avaliar os riscos de exposição à saúde humana, considerando o consumo de água não tratada por um adulto, foi observado que os reservatórios do Estado da Paraíba apresentaram riscos de exposição as saxitoxinas baixos a moderados, no entanto, baixas concentrações da toxina em mais de 90% das amostras alertam sobre os riscos de exposição crônica.

Por fim, o estudo ressaltou a necessidade do controle do aporte de fósforo como estratégia de mitigar a expansão das florações de R. raciborskii, e minimizar os riscos de intoxicação por saxitoxinas em ambientes do semiárido tropical. A R. raciborskii é uma espécie de cianobactéria de grande relevância devido à magnitude de suas florações, distribuição geográfica e seu potencial nocivo (produção de cianotoxinas).

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Pesquisa levanta a preocupação com intoxicação nos mananciais em cenários futuros

Segundo a pesquisa de Ranielle, a intensificação das florações de Raphidiopsis raciborskii tem elevado as concentrações de saxitoxinas levantado preocupações quanto a intoxicação em cenários futuros. De acordo com a doutoranda, o estudo avaliou se os fatores ambientais que promovem as florações de R. raciborskii também promovem as saxitoxinas em reservatórios da região semiárida tropical, e identificou a relação entre a neurotoxina e a biomassa de R. raciborskii.

A amostragem ocorreu em um único ponto, próximo a captação de água em 37 reservatórios localizados no estado da Paraíba, durante os meses de novembro de 2021 e março e junho de 2022. Foram avaliados os efeitos das variáveis ambientais (temperatura da água, volume hídrico, turbidez, níveis de salinidade e pH) sobre a biomassa de R. raciborskii e nas concentrações de saxitoxinas por meio de um modelo de Equações estruturais.

“Nossos resultados reforçam que condições eutróficas podem favorecer a expansão desta cianobactéria, e, portanto, reforçam a necessidade de controle do aporte de nutrientes, especialmente do fósforo como estratégia de mitigação das florações de R. raciborskii.

“Para nós é uma grata satisfação ver um trabalho de ecologia de populações (com cunho aplicado) reconhecido numa área tão clássica e dura como a engenharia e os Recursos Hídricos”, observou José Etham de Lucena Barbosa, coordenador do projeto Rio Paraíba Integrado, professor da UEPB, e coordenador do Laboratório de Ecologia Aquática (LEAq). “Obrigado ao PELD/CNPq/Fapesq por oportunizar esse momento”.

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Rio Paraíba Integrado

Dois projetos de pesquisadores da Paraíba foram aprovados em 2021 no Programa Pesquisa Ecológica de Longa Duração (PELD), um projeto do governo federal (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, CNPq e Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa) que apoia pesquisas científicas que necessitam de um período longo de coleta de dados e análises para entender o funcionamento dos ecossistemas.

O edital “PELD” foi lançado pela primeira vez em 1999 e propõe a formação de sítios de pesquisas em diferentes biomas brasileiros, locais delimitados que serão investigados durante quatro anos, tempo da duração do programa. A cada quatro anos o edital é relançado com a chance de manter a pesquisa em sítios antigos e abrir espaço para novas localidades.

Uma das propostas aprovadas na Paraíba é da área de comunicação pública da ciência: “Estratégia Multidimensional de Comunicação Pública para o Programa PELD”, coordenada por Alessandra Gomes Brandão, professora da UEPB. O projeto de comunicação irá reunir e disseminar informações sobre todos os sítios PELDs do Brasil. Atualmente, existem 34 sítios vigentes nas cinco regiões do Brasil e na costa marinha brasileira, que são apoiados pelo PELD. Esse número poderá alterar a partir do edital deste ano.

Além da plataforma digital onde as diversas ações de comunicação serão integradas, a proposta apresenta uma plataforma que fará o acompanhamento das ações dos sítios PELD de acordo com as metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis. O Peld possui um orçamento no valor global de R$ 15 milhões sendo R$ 14 milhões oriundos do orçamento do CNPq e R$ 1 milhão oriundo do orçamento do MCTI. O projeto Rio Paraíba Integrado foi contemplado com recursos de aproximadamente R$ 200 mil, para ser executado em quatro anos.

O projeto propõe estudos relacionados à bacia do Rio Paraíba, visando o recebimento das águas do Rio São Francisco, as mudanças climáticas e a integração de pesquisas com foco na sustentabilidade socioambiental e econômica.