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Renda Renascença - Tradição é fonte de renda e tem potencial de exportação

publicado: 06/12/2024 09h16, última modificação: 06/12/2024 14h02
Estudo analisa associações de rendeiras e relata experiência de capacitação
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Iniciativas de economia solidária na forma de cooperativas e associações têm ampliado a produção paraibana de artesanato. Estudo destaca que, nesse contexto, a renda renascença se apresenta como fonte de ganho complementar relevante para grupos de mulheres entre 40 e 60 anos, donas de casa e que, com frequência, também são trabalhadoras da agricultura familiar.

Márcia Paixão, coordenadora do Programa de Qualificação para Exportação (Peiex) no estado da Paraíba e professora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), destacou em breve ensaio aprovado recentemente para publicação em Ebook da ApexBrasil, que a produção da renda renascença na região do Cariri paraibano está concentrada em cinco municípios: São João do Tigre, São Sebastião do Umbuzeiro, Camalaú, Zabelê e Monteiro.

O ensaio teve por objetivo destacar aspectos da produção paraibana de renda renascença a partir de resultados de pesquisas e da experiência de atendimento de rendeiras no âmbito da segunda edição do Peiex no estado. O Programa foi executado sob convênio entre a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e a Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq), em parceria com a Secretaria da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior (Secties) e com apoio técnico de projeto de extensão acadêmica da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o Probex Comex UFPB.

“O Peiex é um.programa da ApexBrasil, agência de relevância nacional e internacional dedicada à promoção de produtos brasileiros no mundo. A qualificação Peiex, além de proporcionar conhecimentos técnicos necessários à preparação para exportar, abre portas para outras iniciativas da ApexBrasil, a exemplo de feiras e rodadas de negócios apoiadas por ela. Ainda, no curto prazo, a empresa qualificada ganha maior visibilidade local e nacional e passa a fazer parte de uma rede de agentes com informações e conhecimentos úteis ao objetivo de fazer novos negócios”, afirmou Márcia.

897e1280-5a47-4c95-a717-2610bb82c742.jfifEm 2018, associações e uma cooperativa de mulheres rendeiras nos municípios polos da produção contavam com 275 sócias, segundo pesquisa de Fabiana Miranda Silva (UEPB) com base em dados do Sebrae Monteiro. O município de São João do Tigre se destacava como região com mais entidades de rendeiras: Assoart com 80 sócias, e Coopetigre com 35, ambas localizadas na sede do município; e ARCA, localizada no Distrito Cacimbinha (30 sócias) e Cacimba Nova, na Comunidade Quilombola (35). Já no período mais recente, o Governo Estadual trabalha com a estimativa de que existem mais de três mil rendeiras de renascença em toda a região do Cariri.

Em 2020, entrevistadas pelo Probex Comex UFPB em ação extensionista também envolvendo empresas juniores Eleven (RI/UEPB), Líderi (RI/UFPB) e Internacionalize (LEA/UFPB), as rendeiras-líderes do Cariri paraibano, avaliaram a exportação da produção como positiva por representar mais uma possibilidade de diversificação de suas fontes de renda, mas declararam possuir pouca ou nenhuma informação sobre o processo e relataram medos facilmente contornáveis sob orientação e capacitação adequada, entre os quais: desconfiança em relação aos possíveis compradores; medo de perda da carga; medo de errar no processo de exportação.

Marlene Leopoldino, uma das líderes das rendeiras de Monteiro, disse que depois da capacitação que recebeu do Peiex já participou de rodadas de negócios internacionais que foram importantes para projeções futuras. “O Peiex foi e é muito importante em nossos trabalhos, pois temos boas parcerias e estamos preparadas para exportar aguardando só as oportunidades”, afirmou.

8fb348c1-9431-4f26-bca2-6550664f6233.jfifMaria Helena, rendeira desde os oito anos de idade, em São João do Tigre, coloca o que produz na loja de Monteiro onde, segundo ela, tem mais oportunidades de venda.  Conforme Maria Helena, vem compradores de Fortaleza, Belo Horizonte e de outras cidades do Sul e Sudeste adquirir as peças das rendeiras do Cariri. “É um dinheiro extra que soma na renda da família. Para mim, a renascença sempre foi uma bênção”.

Voltado principalmente para a caprinocultura e a ovinocultura, o município de Monteiro influencia social, econômica e politicamente o Cariri paraibano, sendo uma expressão disso o fato dele sediar o Centro de Referência da Renda Renascença e do Artesanato (Crença), instituído pelo Governo Estadual em 2021 e, segundo o qual, trata-se de  um local de preservação da renda renascença que reúne as rendeiras e o consórcio do qual participam, servindo também para a realização de cursos, capacitações e inovações tecnológicas voltadas para o artesanato local. Destaque-se que, em 2022, o município de Monteiro recebeu o título de Cidade Mundial da Renda Renascença pelo Conselho Mundial do Artesanato, uma organização filiada à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

No ensaio para o Ebook da ApexBrasil, Márcia Paixão também destaca outros produtos paraibanos com potencial para exportação e a serem priorizados em ações de fomento da cultura exportadora: TI, móveis, confecções, cachaça, pedras preciosas, conservas de frutas e legumes, material plástico, minerais não-metálicos, produtos de lavoura temporária e aquicultura, máquinas e equipamentos. Esses setores são apontados cruzando-se a informação dos produtos recorrentes na pauta exportadora do estado com a dos Arranjos Produtivos Locais da Paraíba certificados pelo Plano de Desenvolvimento Territorial Inteligente e Sustentável (Plades), mais avaliações do setor de Inteligência da ApexBrasil e da experiência de atendimento de empresas pelo Núcleo Peiex-PB em 2021-2023.

Especificamente sobre o setor de artesanato paraibano, este conta uma diversidade expressiva de tipologias. Entre elas estão madeira, couro, cerâmica, metais, além da arte com tecido, fibras, renda de labirinto, renda renascença e escamas de peixe, sendo estas últimas produzidas, predominantemente, por mulheres agricultoras e de pescadores.