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Paraíba é destaque em inovação

publicado: 13/05/2024 14h17, última modificação: 14/05/2024 14h18

O estado da Paraíba foi destaque em reportagem especial sobre as mudanças que a tecnologia está promovendo no perfil dos negócios no Brasil publicada na edição do mês de maio, da Revista Época (Nº 200). A forte estrutura das instituições públicas de ensino superior na formação humana, os equipamentos de ancoragem de projetos e impulsionamento como os parques tecnológicos, organizações como a Associação Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), laboratórios e a tradição em inovação foram alguns dos destaques.

Mas outros fatores somam-se a este, como o ambiente regulador favorecido pelo Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação para o Estado da Paraíba, investimentos governamentais direcionados à projetos de inovação e a resiliência do paraibano acreditar na viabilidade mercadológica de seus projetos, investir e atravessar as dificuldades de cada fase do negócio.

Estar no centro de projetos tecnológicos e inovadores é uma tradição para Campina Grande que remonta a chegada dos primeiros computadores no Brasil, em meados do século passado. A autora da matéria, a jornalista Jennifer Ann Thomas narrou a história da aquisição do IBM 1130 pela Escola Politécnica da Paraíba em 1967, um evento que envolveu doações da comunidade e até rifa de boi! O fato se tornou um símbolo da força e da capacidade das pessoas em transformar uma cidade interiorana no Brasil em um polo de desenvolvimento científico e tecnológico. E, como não pode deixar de ser, a referência pessoal, um pilar para a consolidação desse movimento, o professor Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque, cujas ações ultrapassaram as divisas da Paraíba atingindo o território brasileiro, quando foi presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) entre 1980 e 1985.

A evolução dos tempos confirmou a predisposição de uma comunidade de cientistas, pesquisadores, tecnólogos, desenvolvedores e empreendedores para elevar o nível de projetos executados não só em Campina Grande, mas no estado inteiro. Uma das consequências positivas é a criação de empresas de base tecnológica, as startups. O “Sebrae Startups Perfil Paraíba” mostra que o número de empresas dessa categoria triplicou entre 2018 e 2022. Em números absolutos, por contagem através de CNPj, o perfil aponta a existência de 96 startups operando na Paraíba, 58% delas sediadas em João Pessoa e 27% em Campina Grande.

Mas é na Rainha da Borborema, como é conhecida Campina Grande, onde está a universidade com o maior depósito de patentes no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) em 2023. A Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)  registrou 101 pedidos, 60 a mais, em relação a 2022.

Embora o esforço represente um indicativo de inovação, a professora da UFCG Francilene Procópio Garcia, vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), levanta a ressalva de que as universidades, por meio de seus Núcleos de Inovação Tecnológica, os NITs, se especializaram em “redigir” patentes, “porém, não temos um plano estratégico, nem conexão com o desenvolvimento dos Institutos de Ciência e Tecnologia  ou do Estado. A falta de estratégia implica no desperdício de conhecimento, geramos estoques sem impacto. Há um gargalo claro na capacitação de gestores, na formação de talentos que se engajem na solução de problemas da sociedade”, avalia Francilene Garcia fazendo referência à condição nacional no procedimento de criar as Patentes de Inovação.

Este posicionamento é mencionado na reportagem da revista época pelo diretor-executivo do Centro de Inovação e Tecnologia Telmo Araújo (Citta) Heleno Bispo, falando sobre o distanciamento entre a academia e o setor empresarial e defendendo a cultura empreendedora na universidade.

Na esfera governamental, no que diz respeito ao plano estratégico para a ciência, tecnologia e inovação, a Paraíba finalizou recentemente as etapas preparatórias para a V Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. O secretário da pasta de Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior, Claudio Furtado, declarou que o “Estado promoveu o levantamento de diversas demandas, as quais serão consideradas na confecção de um plano estratégico de C,T&I para a Paraíba”.

Setor das GovTech é oportunidade de negócios

“Abracadabra!” Na fantasia a palavra ordena abertura de um portal mágico com surpresas incríveis. A cena inspira o nome da startup que opera uma plataforma de gestão para consultoria online, especializada em viabilidade financeira de empresas. Nascida na Paraíba, a empresa foi fundada em 2020.

Com entusiasmo na voz, Bruno Cruz, consultor e criador do Abracadabra, contou que enfrentar os desafios é um exercício constante que resulta em aprendizado e fortalecimento. A empresa tem hoje quatro funcionários, um indicador de sustentabilidade, uma vez que 74% das startups brasileiras possuem entre 1 a 5 funcionários (ABStartups/Deloitte 2023). 

O projeto passou pelos programas de incubação e aceleração StartPB, Capital Empreendedor, Inovativa Brasil e StartNE. “Foi uma luta no início. Mas hoje esta é a minha principal fonte de renda. Temos 3 mil usuários/clientes e temos um direcionamento para  atender o setor governamental, o que nos traz maior estabilidade”, disse Bruno.

O Abracadabra firmou um contrato com a Prefeitura de João Pessoa e executa análises de  viabilidade financeira de novos negócios. A ferramenta é capaz de entregar um relatório de consultoria financeira em 25 minutos. O procedimento reduziu em mais de 50% o índice de inadimplência junto a empréstimos por meio de programas da prefeitura desde 2021, ano que foi implementado. Mais de 3 mil empreendedores foram ajudados. “Houve um dia em que foram feitas 42 consultas. Outro pico foi de 500 consultorias financeiras em um mês. Se não fosse o sistema, humanos demorariam muito para dar um retorno. A empresa também atende o Sebrae-PB.

Essa startup enveredou pelo segmento govtech,  voltadas ao desenvolvimento de soluções tecnológicas para desafios dos governos (municipal, estadual, federal ou até no legislativo e judiciário), um cenário não detalhado pela reportagem na revista Época.

O estudo “Mapa Govtech Brasil 2024” feito e publicado neste ano pelo BrazilLAB, um hub de inovação GovTech, identificou 475 startups e Pequenas e Médias Empresas atuando no segmento govtech no Brasil: 68 no Nordeste e 10 na Paraíba.

De acordo com o estudo, “a Nova Lei de Licitações, a Lei do Governo Digital e o Marco Legal de Startups e do Empreendedorismo Inovador, e os novos instrumentos jurídicos introduzidos por cada uma das três leis, abre uma enorme oportunidade para o ecossistema GovTech no Brasil.” O ambiente regulatório promove uma tendência natural da busca por soluções que passam pela tecnologia.

Claudio Furtado, secretário da Secties, corrobora: “Essas leis amparam a contratação de soluções tecnológicas. Então, as demandas de governo podem ser atendidas agora por startups, por encomendas tecnológicas, modalidades de contratação que anteriormente encontravam certas dificuldades, devido a ambiência legal, ou seja, com este marco regulatório o governo pode demandar mais serviços e soluções tecnológicas que vão ao encontro de soluções de questões do dia a dia da administração e do atendimento ao público”.

Na Paraíba, o Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação para o Estado da Paraíba, Lei Estadual 12.191, foi sancionado pelo governador João Azevêdo em 2022. Normatiza ações, investimentos, promove a continuidade dos processos de desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação, cria um ambiente favorável à pesquisa nas universidades, nas instituições públicas e nas empresas.

Tecnologia socioambiental como geradora de impacto

Há mais de 10 anos acompanhando o ecossistema de inovação na Paraíba, a especialista em negócios de impacto social da Fundação Parque Tecnológico Horizontes de Inovação (PTHI) Mayara Costa, salientou que “a Paraíba é cada vez mais destaque em inovação e isso é um mérito válido em vista das  diversas organizações de apoio em conjunto com a formação de pesquisadores das universidades e institutos federais. Inovação científica e tecnológica é o DNA da Paraíba”.

Segundo Mayara, são 3 Parques tecnológicos, 14 incubadoras, diversos laboratórios de inovação, Unidades e Centro de Competência da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial, Embrapii.

“Nesses últimos seis anos, cada vez mais organizações de apoio estão surgindo pela demanda da cidade e do mercado, como surgiu o PTHI, que trabalha diretamente com setores produtivos e áreas para o desenvolvimento econômico do Estado”, afirmou Mayara.

Em dois anos de operação o PTHI incubou negócios alguns deles premiados como o Game Start, startup que cria jogos sobre problemas ambientais e baseados nos ODS - Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, agraciado no prêmio Diplomacia Verde da União Europeia (UE). “O PTHI entende que exemplos como essas startups são inovações e tecnologias socioambientais criadas e por essa razão intensificou o apoio ao setor de negócios de impacto socioambiental no estado com um programa exclusivo para esses modelos”, disse.

Atualmente o Parque incuba 10 negócios apoiados na Expo Favela, três deles foram destaques nos últimos programas Pequenas Empresas e Grandes Negócios, a Doces Tambaba, empresa criada com apenas R$ 50 reais, mas com um crescimento exponencial. As Garças do Sanhauá, trabalham o turismo na comunidade, reinventaram a forma de mostrar para o mundo como a Paraíba foi formada, seus mangues, rios e cultura. Outro negócio apoiado é a My Moon, a empresa  cresceu 300% em menos de 1 ano e já faturou mais de 50% de todo o seu ano de 2023 apenas no primeiro semestre de 2024. A My Moon produz pelúcias hipoalergênicas com personagens da fauna brasileira.

“Eu não tenho dúvidas que a inovação na Paraíba é de impacto e cada vez mais será, nós não estamos falando mais só de negócios em ideação, de ecossistema em construção, estamos falando de investimento de impacto sendo realizado e prospectado em startups na Paraíba, o PTHI está atuando fortemente nessa frente e criando oportunidades, disse especialista”.

Márcia Dementshuk (Ascom - Secties)