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Movimento Parent in Science pede maior diversidade em conselhos do CNPq
Por Renato Félix
O Movimento Parent in Science divulgou uma carta aberta em que defende maior diversidade dentro da academia e ciência brasileiras, tendo em vista o processo de renovação de membros dos comitês de assessoramento do CNPq. Os mandatos terminam este ano e nomes podem ser sugeridos até 14 de maio por bolsistas de produtividade do CNPq nível 1. “Apesar de as mulheres representarem 57% dos alunos de graduação e 53% dos de pós-graduação no Brasil, à medida que se avança na carreira científica a proporção de mulheres diminui drasticamente, fenômeno conhecido como efeito tesoura ou segregação vertical”, alerta o documento.
“Nosso movimento tem trabalhado nos últimos anos para que políticas de apoio à maternidade sejam implementados em agências de fomento, universidades e instituições de pesquisa. Temos tido êxito apesar do muito que ainda precisa ser feito”, comenta Alessandra Brandão, doutora em História e Filosofia da Ciência, é do Departamento de Física da UEPB e do núcleo central nacional do Parent in Science, movimento formado por cientistas que são m]aes e pais e desejavam expor as questões de conciliação das missões de criar filhos e produzir ciência – muitas vezes situação alvo de preconceito dos colegas e superiores. “No caso da campanha #maternidadenolattes, conseguimos que o CNPq permita a inclusão da informação de licença maternidade no currículo lattes. Além disto, várias universidades e agências de fomento têm incluído em seus editais políticas de apoio à maternidade. Apesar destes avanços sabemos que ainda há muito para ser conquistado”.
A carta aberta apresenta outros números. “As mulheres representam apenas 36% dos bolsistas de produtividade, 31% dos membros atuais dos CAs e, até hoje, nunca tivemos uma mulher ocupando os cargos de presidente do CNPq, presidente da Academia Brasileira de Ciências ou de ministro da Ciência e Tecnologia”, diz o texto. “Em outras instâncias, como as Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs), somente 14% dos presidentes eleitos foram mulheres. Fica clara a sub-representação das mulheres nos espaços de tomada de decisão. Além disso, é necessário salientar que quando estas análises são realizadas considerando-se raça, os dados são ainda mais alarmantes, especialmente em um país que tem mais da metade da sua população constituída por negros”.
“Apesar das mulheres estarem presentes na ciência, são até maioria nos cursos de pós-graduação, ainda são minoria em algumas áreas e são muito poucas em espaços de poder e decisão”, diz a professora. “Os comitês de assessoramento do CNPq representam um importante espaço de decisão pois seus componentes participam do julgamento e definição das regras de financiamentos de pesquisa, tais como as bolsas de produtividade”.
“É importante que as pessoas que ocupem estes comitês tenham sensibilidade e compromisso no desenvolvimento de políticas que aumentem a proporção de mulheres e negros dentro da academia”, continua. “Como apontamos em nossa carta, acreditamos que defender a diversidade na ciência é construir uma ciência mais democrática, representativa, empática e de verdadeira excelência”.
“É importante a mobilização da sociedade em sempre lembrar a necessidade de, mesmo em processos que têm critérios definidos como este, se dê atenção a essa questão de gênero e etnia”, concorda Roberto Germano, presidente da Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (FapesqPB). “Isso é muito importante para que a participação da mulher na ciência seja cada vez mais forte. A popularização da ciência talvez seja um elemento importante para a realização dessas conquistas”. “Defender a diversidade na ciência é construir uma ciência mais democrática, representativa, empática e de verdadeira excelência”, finaliza a carta aberta do Parent in Science.