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Pesquisa Paraíba

Governo investe mais de R$ 3 milhões em pesquisas para combater a desertificação na Paraíba

publicado: 26/06/2025 08h05, última modificação: 25/06/2025 11h46
Pesquisadores desenvolvem uma ferramenta computacional para estimar a evapotranspiração, otimizando a irrigação e o gerenciamento de recursos hídricos em áreas agrícolas e vegetação de Caatinga
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Processos erosivos acelerados na zona rural de Cabaceiras. Erosão linear do tipo ravina. Área em processo de desertificação
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Terraço fluvial do Rio Sucuru entre os municípios do Congo e Coxixola
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Evolução da erosão por voçorocamento em São Domingos do Cariri
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Evapotranspiração potencial diária estimada para o estado da Paraíba
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Terraço fluvial do Rio Sucuru entre os municípios do Congo e Coxixola.JPG
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Evapotranspiração potencial diária estimada para o estado da Paraíba.jpg

Compreender as consequências das mudanças climáticas e ambientais, e da perda da biodiversidade, no solo e meio ambiente, vem sendo tema de importantes pesquisas colaborativas realizadas por equipes da Paraíba, e instituições nacionais e internacionais. Só nos últimos anos o Governo do Estado investiu mais de R$ 3 milhões em pesquisas na área, por meio de editais da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior (Secties) e Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq). O objetivo é propor novas ações e possibilidades que auxiliarão no entendimento dos processos de degradação do solo e permitirá melhor planejamento de políticas públicas, para mitigar problemas ambientais em áreas mais suscetíveis à degradação, com sistemas inovadores, funcionais e o uso de novas tecnologias.

Um dos projetos relacionados estudou de 2023 a 2025, as “Mudanças ambientais, erosão dos solos e desertificação no Semiárido da Paraíba”, e está inserido no conjunto de propostas e pesquisas do Grupo de Estudos Geomorfológicos e Hidroecológicos de Ambientes Tropicais (GEGHAT) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). A pesquisa buscou compreender as mudanças ambientais em áreas do Planalto da Borborema na Paraíba, sob clima semiárido, em duas dimensões:  mudanças ambientais no tempo geológico, especificamente sobre mudanças climáticas nos tempos atuais e suas repercussões na cobertura vegetal, solos e processos erosivos; mudanças ambientais no tempo histórico, refere-se ao processo histórico de ocupação da área e as sucessivas intervenções no meio, gerando mudanças ambientais degenerativas da qualidade ambiental, através da supressão da vegetação e perda da biodiversidade.

O projeto conta com uma equipe de pesquisadores especialistas da UEPB, da Universidade Federal de Viçosa, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da Universidade Federal da Paraíba. A pesquisa contou com levantamento de dados a partir de imagens de satélites, imagens de drones, levantamentos de solos, levantamentos de vegetação; processamento e geração de mapas; trabalhos de campo para fins de reconhecimento, levantamentos e validações; análises laboratoriais de solos; análises teóricas; análises quantitativas e estatísticas.

De acordo com a pesquisa, nos últimos 40 anos, ocorreram perdas de área de caatinga em: Frei Martinho 47%, São Vicente 38%, Nova Palmeira 37%, Picuí 35%, Cubati 35%, Pedra Lavrada 32%, Juazeirinho 27%, Tenório 13%, entre outros. O mesmo cenário é observado para o Cariri Paraibano. O município de Cabaceiras perdeu 6.470 hectares de área de caatinga nos últimos 40 anos, o que corresponde a 22% da cobertura de 1985. Em contrapartida, a área da agropecuária aumentou 7.976 hectares, representando uma expansão de 52% em relação ao ano de 1985.

Para o pesquisador, Rafael Albuquerque Xavier, coordenador do projeto, conhecer a dinâmica hidro-erosiva, sua variação espaço-temporal, sua relação com os solos e os diferentes tipos de uso e cobertura, através de mensurações do fenômeno, é fundamental não só para o avanço dos estudos hidrogeomorfológicos em ambientes semiáridos, como também podem servir para subsidiar políticas públicas que visem o ordenamento e a gestão dos espaços rurais.

Ferramenta otimiza irrigação e o gerenciamento de recursos hídricos em áreas da Caatinga

Em um cenário de escassez hídrica e desafios para aumento da produção agrícola, influenciados pelas mudanças climáticas, o gerenciamento da água é um fator importante para o desenvolvimento e a economia regional. Nesse sentido, entender o comportamento da evapotranspiração é um fator controlador da água no solo. A evapotranspiração ocorre quando a água é transferida da superfície terrestre para a atmosfera em forma de vapor, combinando a evaporação da água do solo e a transpiração das plantas, um dos processos mais importantes do ciclo da água e um dos mais complexos e difíceis de se estimar.

Uma das pesquisas apoiadas pelo Estado desenvolveu uma ferramenta computacional para estimar a evapotranspiração para otimizar a irrigação e o gerenciamento de recursos hídricos em áreas agrícolas e vegetação de Caatinga na região semiárida do estado da Paraíba. A evapotranspiração indica o quanto de água é perdido do solo e das plantas para a atmosfera. Com a estimativa precisa da evapotranspiração, agricultores podem irrigar apenas o necessário, evitando o desperdício de água; aumenta-se a disponibilidade de água nos períodos mais secos; e os reservatórios podem ser gerenciados com mais precisão, prevenindo crises hídricas.

A pesquisa durou três anos e foi liderada pelo professor Richarde Marques da Silva, do Departamento de Geociências do Centro de Ciências Exatas e da Natureza, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e promete trazer avanços na estimativa da evapotranspiração usando recursos computacionais avançados. Nessa pesquisa participaram pesquisadores e estudantes de instituições de ensino e pesquisa da Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Mato Grosso do Sul.

Os resultados mostram que os municípios localizados nas mesorregiões do Litoral e no Brejo Paraibano apresentam as maiores evapotranspirações, especialmente em áreas de Mata. “A ferramenta desenvolvida conseguiu estimar a evapotranspiração em diferentes regiões da Paraíba e mostrou-se muito importante para ser usada no gerenciamento da água na produção agrícola”, ressaltou Richarde. A ferramenta foi capaz de processar grandes volumes de dados para estimar a evapotranspiração com alto grau de precisão, considerando variáveis como temperatura da superfície, índice de vegetação, a medida da refletividade de uma superfície, ou seja, a proporção da luz solar que é refletida de volta para a atmosfera e para o espaço, e velocidade do vento. Além da aplicação técnica, a ferramenta busca viabilizar uma estimativa automatizada de evapotranspiração, facilitando na tomada de decisão para irrigação na agricultura.

 Fotos: Registros dos pesquisadores.