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Fapesq-PB enfrentou desafio de buscar recursos e sair de labirintos políticos

publicado: 01/05/2022 11h00, última modificação: 04/05/2022 11h14
Primeiros presidentes lutaram para financiar projetos paraibanos de pesquisa e viram a fundação quase deixar de existir
Reunião na Fapesq, anos 1990.jpeg

Reunião na Fapesq (1990)

Os primeiros anos da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq-PB) tiveram muitos desafios, partindo da ação de tirar a instituição do papel, erguer uma sede própria e também conseguir um orçamento para efetivamente financiar projetos que contribuíssem para o desenvolvimento paraibano no setor de ciência, tecnologia e inovação. Após o primeiro presidente, José Geraldo Baracuhy, levar a Fapesq-PB literalmente embaixo do braço em seus primeiros dias (quando ela era apenas uma portaria nomeando-o) e trabalhar para conseguir funcionários e uma sede, seus dois sucessores deram seguimento à missão de fortalecer o órgão – o que incluiu até um renascimento.

Eduardo Jorge Lira Bonates, de 25 de abril de 1995 a 6 de novembro de 1997, e Vicente de Paulo Albuquerque Araújo, de 6 de novembro de 1997 a 28 de março de 1999, foram o segundo e o terceiro presidentes da Fapesq-PB. “Entre tantos, o principal desafio era conseguir recursos financeiros com diversas agências de fomento, para financiar os projetos propostos pelos pesquisadores paraibanos”, recorda Bonates. “Isso porque um estado pequeno e pobre como a Paraíba não podia se dar ao luxo de financiar pesquisas que nada tinha haver com nossos problemas, especialmente a seca”.

Eduardo Bonates, ex-presidente FapesqBonates assumiu o posto nos primeiros meses do governo de Antônio Mariz, um governo que durou apenas nove meses: Mariz assumiu dia 1º de janeiro, mas morreu em novembro de 1995. “Na época, eu atuava como professor titular da Universidade Federal da Paraíba, professor visitante da USP, consultor das empresas Sociedade Anônima de Mineração de Amianto (Sama), Companhia Vale do Rio Doce, Mineração Rio do Norte”, conta. Além disso, era membro do Centro de Automação e Mecanização de Minas, em Denver, Colorado (EUA).

Mariz o convidou pessoalmente para a função. “Até porque tinha participado da elaboração do seu plano de governo”, ressalta. “O respaldo veio principalmente por pessoas do seu maior relacionamento: o professor José Marques de Almeida Júnior, que trabalhava com ele no Núcleo de Desenvolvimento de Recursos Minerais da UFCG, o doutor Otacílio Silveira e o doutor Juarez Farias”. Os três últimos haviam sido secretários do governo João Agripino: respectivamente de Transportes, de Finanças e de Planejamento.

“Portanto, não tive nenhuma surpresa ao ser convidado para servir ao governo”, completa. “Só achava a princípio que seria em outra área”.

Mas foi a Fapesq-PB a escolhida, um trabalho que Bonates define como extremamente prazeroso. “Pois só tratava com pesquisadores do mais alto nível”, afirma. “Além do mais, o estado contava com a excepcional consultoria do professor Lynaldo Cavalcanti, homem de uma inteligência ímpar cujo principal objetivo era desenvolver o estado e educar os paraibanos”.

Colocar a Paraíba no mapa dos estados fomentadores de pesquisa era o grande desafio. “Foi muito difícil, mas foi possível em virtude das relações que o professor Lynaldo mantinha com os órgãos que financiavam pesquisa no país”, recorda. “Lembro perfeitamente que ele abria as portas, sendo bastante respeitado por onde passava: CNPq, Capes, Finep, Embrapa, etc. Ele era o cartão de visita do governo da Paraíba”.

Vicente Albuquerque Araújo, ex-presidenteQuase extinta e renascida

Na gestão da Fapesq-PB presidida por Eduardo Bonates, Vicente Araújo era o diretor administrativo. Araújo conta que o cargo, até então, não era de “presidente”, mas de diretor geral. “O organograma tinha o diretor geral, o diretor administrativo e o coordenador técnico-científico”, explica. “Rômulo Navarro era o diretor técnico-científico”.

Com a morte de Antônio Mariz, assumiu o governo o então vice José Maranhão. E o novo governador resolveu fazer uma reforma administrativa, e o novo secretário de Administração, Antonio Fernandes Neto, sugeriu que a Fapesq-PB fosse fundida com outra fundação, que era voltada para a transferência de tecnologia para o setor industrial, fazendo o meio-de-campo com as universidades para a busca de soluções.

“Nós, diretores, perdemos os cargos. Na prática, ele extinguiu a Fapesq”, recorda Araújo. “A equipe ficou aguardando a exoneração. Passou-se 8 meses e ela não veio, mas ninguém recebia mais o salário da função gratificada”. Quando Ronald Queiroz assumiu a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Ciência e Tecnologia, o horizonte começou a abrir.

“Ele tinha uma relação muito boa com a gente por causa do Sebrae, de que ele havia sido presidente”, recorda. “A gente conseguiu convencer Ronald de que não era uma boa aquela solução”. Assim, Araújo foi encarregado da reestruturação da Fapesq-PB, incluindo seu organograma. “Foi aí que criei o cargo de presidente para o que, antes, era diretor-geral”, recorda.

Ele também foi conduzido à função, após uma audiência com o governador. A partir, voltou o desafio de encontrar recursos para o financiamento de projetos. “Havíamos negociado com a Capes o Projeto Nordeste. A Capes entrava com R$ 1 milhão e os estados com R$ 500 mil para apoiar programas de pós-graduação e pesquisa. Para aquela época, era um orçamento muito bom”, afirma. “Aprovamos ali pouco mais de uma dezena de projetos na UFPB e na UEPB, executados em 1996 e 1997. Lançamos o edital e fizemos uma peregrinação em todas as reitorias de pós-graduação. A UEPB tinha poucas pós, estava começando. Acho que o projeto ajudou a ampliar as pós na UEPB, deu um empurrão”. O estado acabou não entrando com sua contrapartida, mas a Capes acabou aprovando a utilização dos recursos.

“Na verdade, os parcos recursos disponíveis na empresa eram destinados para o financiamento de projetos e pesquisas que tivesse relevância para o semiárido, tipo: desenvolvimento da palma forrageira; levantamento dos recursos minerais do estado; desenvolvimento de dessalinizadores; criação de peixes no curimataú e sertão; etc”, complementa Bonates, mostrando o quão diferente era a realidade econômica da Paraíba nos anos 1990. “Um estado pequeno e pobre, situado em uma região inóspita, não podia se dar ao luxo de financiar pesquisas que não pudessem ser aplicadas na região”.

Mas ele também ressalta que a vocação para a pesquisa era forte por aqui. “A Paraíba chegou a ser o segundo estado da União com o maior número de PhD/mil habitantes”, lembra. “Na época de Lynaldo como reitor da UFPB, a universidade foi o terceiro maior orçamento da universidades federais, ficando atrás apenas da UFRJ e UFMG. Isso demonstra a importância que o estado tinha no cenário de ensino e pesquisa”.

Esse cenário felizmente mudou bastante ao longo dos anos, com a Fapesq-PB assumindo de vez um protagonismo no incentivo à pesquisa na ciência, tecnologia e inovação nas mais diferentes áreas.

Quadro:

PRESIDENTES DA FAPESQ-PB

José Geraldo de Vasconcelos Baracuhy: 08/10/1992 a 25/04/1995

Eduardo Jorge Lira Bonates: 25/04/1995 a 06/11/1997

Vicente de Paulo Albuquerque Araújo: 06/11/1997 a 28/03/1999

Roberto Silva de Siqueira: 04/04/1999 a 06/04/2000

Salomão Anselmo Silva: 06/04/2000  a 02/09/2000

Hebert Rodrigues Pereira: 15/09/2000  a 02/01/2003

João Marques de Carvalho: 02/01/2003  a 15/03/2007

Telmo Silva de Araújo: 15/03/2007  a 24/05/2007

Maria José Lima da Silva: 19/06/2007  a 27/02/2009

Michel François Fossy: 27/02/2009  a 02/01/2011

Claudio Benedito Silva Furtado: 02/01/2011  a 02/01/2019

Roberto Germano Costa: desde 02/01/2019

 

Renato Félix (Assessoria da SEC&T)