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Evento debateu futuro da educação, ciência e a obra de ZéLins
Por Renato Félix e Márcia Dementshuk
Os desafios da educação, da ciência e da tecnologia se multiplicaram do ano passado para cá, por causa da pandemia da covid-19. Primeiro, ela interrompeu as aulas em vários países. Depois, fez com que as aulas remotas tivessem que entrar no cotidiano dos estudantes, uma mudança de rotina para os alunos e também para os professores. Os passos da educação para o futuro, no trabalho em si e também na filosofia, foi o tema do I Seminário Transformação Digital na Educação e na Ciência e Tecnologia: Práticas Inovadoras e Criativas, realizado durante três dias, com convidados como o filósofo Leandro Karnal, a empresária Luiza Trajano e duas descendentes do escritor José Lins do Rêgo: a filha, Maria Christina Lins do Rêgo Veras, e a neta, Valéria Veras.
No primeiro dia, terça, o evento teve como palestrante Leandro Karnal e, como participante, o governador João Azevedo. No segundo, Luiza Trajano e a médica Karina Barros Calife Batista. No terceiro, a filha e a neta de ZéLins, além do professor e artista visual Christus Nóbrega, que falaram sobre a reconstituição do acervo biográfico do escritor e as comemorações dos 90 anos de “Menino de Engenho”, no ano que vem.
O seminário foi uma realização do Governo do Estado da Paraíba, por meio da Secretaria de Estado da Educação e da Ciência e Tecnologia (Seect-PB), em parceria com o Sebrae Paraíba e com a Undime Paraíba, e foi transmitido pelo canal da Seect-PB (https://www.youtube.com/channel/UC0msChcxUcrS3vcKVSctIbA). A transmissão foi ao vivo, mas os vídeos continuam disponíveis para serem assistidos.
Governador anuncia programa de inclusão digital
“Esse é o nosso desafio na gestão pública: fazer com que a escola acompanhe o mesmo ritmo de inovação ao qual nossas crianças passaram a ter acesso nos últimos anos”, disse o governador João Azevedo, na abertura do seminário, terça-feira. Ele lembrou que mais de 54 milhões de estudantes em todo o Brasil foram retirados das salas de aula, enquanto se buscavam soluções digitais enquanto se permitisse a continuidade do ensino.
Ele anunciou o lançamento de dois programas. O “Programa Paulo Freire - Conectando Saberes” pretende estimular a inclusão digital dos educadores da Rede Estadual de Ensino. Os professores na ativa receberão um abono de R$ 3 mil para aquisição de um computador portátil. De acordo com o edital, são 17.209 professores aptos a participar do programa e o investimento previsto é de R$ 51.627.000,00.
Já o “Progr{ame}-se: Programa Meninas na Ciência e Tecnologia” irá incentivar nas escolas a presença das meninas nas ciências, exatas, tecnologias e engenharias, a fim de fomentar projetos de pesquisa, tecnologia e inovação.
O professor Cláudio Furtado, secretário da Educação, Ciência e Tecnologia, também falou no primeiro dia, apontando que a pandemia será um divisor de águas para a educação, um momento histórico. “Essa pandemia, em termos de tecnologias para a educação, foi a queda de Constantinopla: a escola não será mais a mesma, essas ferramentas serão utilizadas e temos que pensar sempre, como falou nosso governador, em dar melhores condições para os professores para continuar com essa revolução na educação”.
O secretário executivo de Ciência e Tecnologia, Rubens Freire, falou na quarta-feira e enfatizou ações que estão em andamento na secretaria. Entre elas, a construção de uma rede de fibra óptica de alto desempenho para levar internet de qualidade às instituições de ensino e pesquisa em todo o estado e também a implantação do Parque Tecnológico Horizontes de Inovação e apoio tecnológico à atividade da agricultura familiar. E reforçou a importância da ciência nesses tempos. “Os quase 500 mil mortos são frutos da negação da ciência. Isso é inegável”, afirma.
Karnal: ‘Ser protagonista é fazer parte da solução’
O historiador Leandro Karnal foi o responsável pela principal palestra do primeiro dia, com o tema “Criatividade e sala de aula”. Ele ponderou a respeito da crise atual, dos desafios e de uma coisa nova nos obriga a pensar. “Decisões que as coordenações, direções, as secretarias de educação, o Sebrae, que nós tomarmos hoje vão marcar os próximos anos”, afirma. “O presente é sempre um espaço de semeadura para essa transformação nos próximos anos”.
Para ele, a crise exige protagonistas. “É aquela pessoa que entende que, independente do problema, ela tem que fazer parte da solução”, explica. “Por isso que o protagonista não reclama, ele apenas critica. A reclamação não leva a nada: só mostra que eu estou insatisfeito, não dá uma solução”. Essa visão é aplicada pedagogicamente no ensino das escolas públicas estaduais, juntamente com a formulação de objetivos de vida de cada estudante, a partir da descoberta de seu próprio sonho.
Ele também apontou caminhos para a educação em um cenário onde profissões mudam constantemente e técnicas vão ficando superadas cada vez mais rápido. “Hoje, acima de tudo, o professor tem que saber que a memória é importante, mas que hoje a memória está arquivada em máquinas. Isso é ruim? É bom? Não sei, é um debate. Mas a minha memória tem que estar livre para aprender conceitos novos”, diz. “A educação não pode ser para ensinar um procedimento técnico que vai desaparecer. Ela tem que ser para buscar, pesquisar. O mais importante é ensinar aos alunos a pesquisar, aprender a distinguir verdades de fake news, oferecer aos alunos mais perguntas, mais problemas para se resolver”.
Luiza Trajano: ‘O nível de consciência aumentou’
A empresária Luiza Trajano iniciou sua fala parabenizando o Programa Primeira Chance, que proporciona aos estudantes e egressos da Rede Pública Estadual Técnica uma experiência profissional. Para ela, depois da pandemia o mundo não será mais o mesmo. Apesar da tristeza de estar-se vivenciando uma doença que causa morte, com a pandemia o consumidor assumiu o Brasil como sendo dele.
“Estamos descobrindo o nosso país. Aumento do nível de consciência e que devemos assumir o Brasil que é nosso. A cultura da doação também aumentou. Nunca vi tanta gente se oferecendo para ajudar com relação à vacina”. Luiza falou do Grupo Mulheres do Brasil e do quanto as empresas deve estar atentas a ampliar a diversidade em seus quadros profissionais, não apenas na questão da inserção das mulheres, mas também dos negros.
Médica falou sobre presença das mulheres na ciência
A médica Karina Barros Calife Batista, doutora em medicina preventiva e membro da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas, trouxe dados que demonstram que as mulheres que se propõem a seguir uma carreira na ciência encontram um afunilamento brutal para alcançar os níveis mais altos como pesquisadoras e que o Brasil tem uma das maiores taxas de mortalidade materna no mundo.
“As mulheres devem participar da elaboração das políticas públicas no Brasil de forma a equilibrar e trazer visões e soluções diferenciadas aos problemas sociais”, defendeu. “
Filha de ZéLins quer vir à Paraíba para homenagem ao pai
O terceiro dia foi dedicado ao escritor José Lins do Rêgo, com a presença da escritora Maria Christina Lins do Rêgo Veras, filha caçuça do autor de “Menino de Engenho”; a arquiteta Valéria Veras, neta do escritor e responsável pela reconstituição de acervo biográfico de ZéLins; e o paraibano Christus Nóbrega, artista e professor de artes da Universidade de Brasília.
Maria Christina falou do relacionamento próximo com o pai e de como só conseguiu ela mesma se tornar escritora depois que ele havia morrido e depois de uma visita à Paraíba. O resultado foi “Cartas para Alice”, primeiro de seus cinco livros de contos.
“Tenho paixão pela Paraíba. Por João Pessoa, pelos engenhos...”, disse ela. “Quando criança eu brincava com a filha de Salomé, chamada Ceci, sobrinha de Ricardo do livro ‘Moleque Ricardo’! Pela primeira vez eu estava solta, sem babá. Temos sorte. A Paraíba gosta de papai. Ele teve muita sorte de nascer na Paraíba”.
Christus Nóbrega está concebendo, junto com Valéria Veras, o projeto de uma exposição celebrando os 90 anos da principal obra de ZéLins, que será chamada “Menino de Engenho 90: Ontem e Hoje”. O Governo do Estado atua como interlocutor desse projeto e o plano é que o estado seja a sede da abertura da exposição.
Os estudantes paraibanos já podem participar do projeto, através do site que já está no ar (meninodeengenho90.com), contribuindo com redações sobre o livro, conectando-o com suas próprias vidas. “A gente vai selecionar várias dessas redações e convidar os alunos para trabalhar comigo em algumas obras que estarão presentes na exposição”, diz Nóbrega. “A ideia é que a gente consiga envolver o estado como um todo na participação desse projeto”.
Valéria ressalta o grande número de acadêmicos trabalhando ZéLins nas universidades. “Isso está inserido no nosso projeto, reforçando essa questão de ‘ontem e hoje’”, conta. Outra relação na vida do escritor está na sua presença na cidade do Rio de Janeiro e suas origens rurais paraibanas. “Mesmo morando no Rio de Janeiro, ele nunca deixou de ser o paraibano que sempre foi, mas tinha esse espectro interessantíssimo, urbano, que ele era também. Então essa relação ‘urbano e rural’ é uma coisa que vai entrar muito no nosso projeto”, diz a