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ARTIGO CIENTÍFICO - DA CIÊNCIA PARA VOCÊ
Estudo mostra a importância da identificação botânica para a promoção da saúde

Autoria: Profª Dra. Martha Priscila Bezerra Pereira, Professora da Graduação de Geografia e do Mestrado em História, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
A necessidade de unir conhecimentos de disciplinas diferentes surge principalmente pela busca de resolver alguma problemática que estaria inserida em disciplinas diversas e a simples junção de profissionais, a partir da multidisciplinaridade não seria suficiente, surgindo daí a ideia da interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. A união da Geografia da Saúde, Biogeografia e Biologia a partir da identificação botânica surgiu a partir da experiência em momentos em que foi observada a necessidade da união desses conhecimentos para que fosse possível de fato agir em prol de promover a saúde. Este artigo tem como objetivo mostrar a importância da identificação botânica para a promoção da saúde e sua contribuição para a Geografia da Saúde. Fundamentou-se no Método Científico Sistêmico.
Desenvolvimento:
O trabalho está dividido em três partes, além da introdução e das considerações finais. Na primeira parte “Itinerário biogeográfico” serão mostrados alguns momentos em que houve o contato com o tema, fazendo esse despertar contínuo chegar ao que se trabalha no momento. O tópico seguinte “Delineamento da metodologia” será apresentado o delineamento da pesquisa desenvolvido a partir de capacitações e da experiência em orientação de iniciação científica e de Trabalho de Conclusão de Curso. No item “Demonstração do delineamento da metodologia” será mostrado o passo a passo com ilustração para auxiliar o leitor que irá utilizar essa identificação botânica na cidade ou no campo.
O itinerário biogeográfico inicia com a apresentação dos contatos pontuais (entre 1994 a 2010) com o tema, foram experiências em que não houve o envolvimento direto com a pesquisa devido estar focada em outras questões, mas despertou alguns questionamentos para o futuro. Através da pesquisa sobre práticas integrativas e complementares em saúde (entre 2012 e 2020) houve uma visão panorâmica e entendeu-se um dos contextos em que a fitoterapia estava inserida, passando a ser objeto de estudo já no processo da pesquisa sobre esse tema.
A partir do ano de 2016 realizou-se a primeira pesquisa sobre o tema e a aproximação com a identificação botânica foi natural, devido ser importante ter mais certeza sobre a identificação das espécies para se ter segurança quanto aos possíveis metabólitos secundários presentes.
Os procedimentos metodológicos consistiram em realizar um breve levantamento de referências e resgate do itinerário biogeográfico para situar o leitor, seguida da demonstração dos critérios considerados para partir da Geografia até a identificação botânica para pensar a promoção da saúde. Esse delineamento considera várias etapas que surgiram de variadas fontes bibliográficas e de qualificações.
Destaques do que foi estudado
No período do trabalho de campo do doutorado na comunidade Chão de Estrelas, bairro Campina do Barreto em Recife -PE(2007), foi relatado que a falta do serviço de saúde no local na década de 1980 mobilizou os moradores da época a organizarem vários grupos de trabalho, dentre eles o grupo da saúde reuniu pessoas que sabiam fazer preparações caseiras com plantas medicinais como xaropes, lambedores, pomadas, tinturas, elixir sanativo, vicky, entre outros para utilizar esse conhecimento e aprender a cuidar da saúde de toda a comunidade. Nesse período aprenderam a fazer perfil epidemiológico, aprofundaram ainda mais os conhecimentos sobre plantas medicinais e quando chegou a médica do então Programa Saúde da Família, na década de 1990,esse grupo ensinou a médica sobre o uso de plantas medicinais e ficaram responsáveis por entregaras plantas prescritas pela médica à população.
Relacionando os conhecimentos entre a fitoterapia da medicina científica e da medicina chinesa, algumas comparações puderam ser realizadas: a) os metabólitos secundários/ princípios ativos apresentados na fitoterapia brasileira tem correspondência na fitoterapia chinesa a partir das características das substâncias medicinais: energia(quente, morna, fresca, fria), sabor(picante, doce, amargo, ácido, salgado), direção (ascenção, descensão, aprofundamento, flutuamento), correspondência com canais colaterais, toxidade, funções e efeitos indesejáveis; b) o tempo de duração para se utilizar uma planta ou medicamento fitoterápico na medicina científica foi associada com uma planta considerada com energia quente ou fria na medicina chinesa. Por exemplo, a Chrorella (Chlorella pyrenoidosa) é doce (tonifica, harmoniza e umedece) e fria (elimina calor do corpo). Essa característica de ser fria faz com que essa eliminação contínua de calor adoeça a pessoa, por isso a necessidade de se tomar o fitoterápico por um tempo específico ou apenas nos períodos mais quentes do ano, ou a pessoa adoecerá de outras enfermidades
Como a identificação botânica pode promover a saúde? Como a fitogeografia pode contribuir para a Geografia da Saúde? Como fazer Geografia da Saúde e promover a saúde a partir da identificação botânica? No que diz respeito à identificação botânica para promover a saúde, após a visita nas áreas objeto de estudo é possível entender o que se planta e qual a extensão desse plantio, e verificar a possibilidade da produção de fitoprodutos que irão auxiliar no desenvolvimento local e regional com sustentabilidade, promovendo a saúde. Em relação a fitogeografia contribuir para a promoção da saúde, entende-se que ter essa certeza auxilia na pesquisa correta e essa planta irá de fato ajudar no equilíbrio do corpo no dia a dia, além de proporcionar sabores e experiências bem diferenciadas, que faz bem à alma e por consequência, também promove a saúde. Sobre a Fitogeografia contribuir para a Geografia da Saúde, percebeu-se que a partir do uso correto das plantas medicinais, como através do simples contato com as mesmas, seja em um ambiente de cultivo, em um ambiente planejado segundo os princípios do paisagismo ou mesmo na mata nativa a fitogeografia pode servir de base para muitas pesquisas relacionada à essa plataforma metodológica. Por fim, lidar com a Geografia da Saúde e a promoção da saúde a partir da identificação botânica perpassa pela convivência com ambientes verdes, seja no campo ou na cidade.
Conclusão:
No caso deste artigo, a promoção da saúde perpassa pela segurança na identificação botânica para o uso como planta medicinal, esteja ela no campo ou na cidade. Na cidade pode fazer parte da agricultura urbana, por exemplo. No campo, ela pode fazer parte de um cultivo que possa servir para o desenvolvimento local e regional através da produção de fitoprodutos, o que também promove a saúde.
Como principais resultados observou-se que a identificação botânica auxilia na confiança do uso de determinada planta medicinal e em um contato com a natureza de maneira mais consciente, e até mesmo gerando renda de forma sustentável, facilitando o processo de promoção da saúde. Enfim, pesquisas que envolvem a identificação botânica para uso medicinal podem promover a saúde em vários aspectos, inclusive no desenvolvimento local e regional.
Acesse aqui o artigo completo.
Resumo do currículo de Martha Priscila Bezerra Pereira
Bacharel em Geografia pela UFPB (1998), especialista em Fitoterapia (2017) e Botânica (2022), mestre em Geografia (2002) e doutora em Geografia (2008). Docente do curso de graduação em Geografia e mestrado em História na UFCG – campus Campina Grande. Atualmente é membro do Comitê Interno de Pesquisa, parecerista no Comitê de Ética em Pesquisa e Assessora de Pesquisa do Centro de Humanidades na UFCG. Tem experiência na área de análise de paisagens que interferem no processo saúde-doença humana, avaliação de políticas públicas com ênfase nos níveis de competências e habilidades desenvolvidas por trabalhadores da ESF e VAS, plantas medicinais e Metodologia da Pesquisa. Líder do Grupo de Pesquisa Pró-saúde Geo, e integrante como pesquisadora do Gids-UFCG.