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Esgoto tratado traz solução para crise hídrica

publicado: 04/06/2019 12h28, última modificação: 04/06/2019 12h33
Proj Tratamento Esgoto4_ Foto Tatiana Brandão-CODECOM UEPB.JPG

 

Cerca de 60% dos municípios da Paraíba têm menos de 10 mil habitantes. De acordo com o pesquisador José Tavares de Sousa, da Universidade Estadual da Paraíba, especialista em esgotamento sanitário, uma cidade com 10 mil habitantes produz, em média, mil metros cúbicos de esgoto por dia. Com um investimento inicial de 40 mil reais e manutenção de cerca de R$ 1 mil por mês, esse esgoto pode ser tratado através de um sistema simples e eficiente e transformado em água limpa para irrigar um hectare de palma por dia. É como se caísse 6 milímetros de chuva por dia sobre a plantação. Então, o que falta para resolver parte da crise hídrica usando sistemas de baixo custo? “Rede para coletar esse esgoto”, responde Tavares.

O tipo de tratamento de baixo custo mencionado por José Tavares chama-se “Sistema anaeróbio tipo UASB, seguido de lagoa de estabilização”. Desde a década de 1990 o professor estuda as possibilidades de reutilização da água de esgotos. Há vários sistemas, cada um aplicável em condições diversas. “Isso resulta em uma produção de esgoto localizada que pode ser facilmente utilizada para irrigação de culturas como o algodão, a palma, milho, feijão... Fácil de fazer, de baixo custo e viável. Obtém-se um resultado excelente”, garante Tavares.

O tratamento de esgotos é caro em grandes centros urbanos, onde a manutenção é grande e os sistemas precisam de energia elétrica. Em cidades menores há alternativas baratas que podem ser aplicadas. Caro é reverter a contaminação que o esgoto não tratado causa: doenças na população, eutrofização dos recursos naturais, contaminação do lençol freático, entre outros.

Proj Tratamento Esgoto 5_ Foto Tatiana Brandão-CODECOM UEPB.JPG

“É comum ver na Paraíba o uso de fossas sépticas nas casas que não estão ligada à rede de coleta. E é um sistema sustentável quando é implantado o complemento: é preciso que a água siga, da fossa, para um sumidouro de areia ou um filtro anaeróbico para ser purificada, oque não é instalado nas residências. Se lançar no rio sem passar pelo sistema completo, chegará ao rio com muita matéria orgânica, roubará o oxigênio da água e os peixes não conseguirão respirar. A vida acaba”, explica Tavares.

Peixes nascem em córrego de água de esgoto tratada em Araruna

A grande maioria das cidades paraibanas pequenas não possuem um plano de saneamento básico. Segundo a pesquisa feita pelo IBGE “Perfil dos Municípios – Saneamento”, referente ao ano de 2017, apenas 13% dos municípios tinham um Plano de Saneamento Básico naquele ano. Muito inferior à média nacional de 38,2% dos municípios com política de saneamento básico – um percentual igualmente baixo.

A Superintendência Estadual da Fundação Nacional de Saúde da Paraíba (Funasa) atua junto aos municípios com menos de 50 mil habitantes na implementação de políticas para saneamento básico e obras. Por outro lado, a Companhia de Água e Esgotos da Paraíba, Cagepa, que atende as cidades maiores, possui sistema de tratamento de esgoto sanitário em 24 municípios. Entre eles, Araruna, ao Norte do Estado.

Uma cidade cuja vocação turística são os esportes de aventura, onde fica a Pedra da Boca, as trilhas para trekking ou bike cortam os morros, passam por pinturas rupestres e atravessam córregos. Em um desses córregos, raso, se enxerga filhotes de peixes na água límpida. O secretário de Turismo, Ricardo Câmara, informou que o tal córrego recebe a água tratada pelo sistema de esgotamento sanitário. “Água de esgoto, transparente, inodora e com peixes?”

“É esse o resultado dos esgotos da cidade. Mais de 80% é coletado e segue para uma estação de bombeamento passando por um filtro grosso e segue para uma grande lagoa em forma de guitarra dividida em três lagoas e no final, passa por uma caixa com brita, areia e carvão e retorna descontaminada para o meio ambiente”, explica Ricardo Câmara. O sistema de saneamento, desde a rede de coleta, começou a ser implantado há 14 anos. Os moradores pagam taxas de esgoto, mesmo que não tenham suas casas ligadas à rede.

No início deste ano, a Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq) articulou uma reunião na qual os pesquisadores apresentaram para a Diretoria da Cagepa diversas soluções de baixo custo para a reutilização da água de esgoto e as propostas estão em análise pela companhia. “Muitas vezes, olhamos para soluções de fora quando as soluções estão aqui na Paraíba”, disse o presidente da Companhia, Marcus Vinícius.

Especialistas terão oportunidades de trabalho na PB

A equipe de pesquisa do professor José Tavares conta com 15 alunos de pós-graduação da UEPB, em Campina Grande. O tema ainda é foco de outros três cientistas, cada qual com sua equipe. No total, cerca de 60 pessoas se envolvem com os efeitos dos esgotos na universidade.  Grande parte das análises químicas são feitas em laboratórios fora da Paraíba, e, o pior, muitos estudantes vão trabalhar fora e não retornam, deixando uma lacuna intelectual no Estado.

O problema será dirimido com a instalação do Centro Multiusuário da UEPB, um laboratório com equipamentos de alto nível, onde serão feitas análises, estudos e pesquisas. Trata-se de um programa do Governo do Estado, implementado pela Secretaria Estadual da Educação Ciência e Tecnologia, por meio da Fundação de Apoio à Pesquisa (FAPESQ). O mesmo Centro unirá o Laboratório de Química em Alimentos e o de Ecologia Aquática (LEAq).

“O Multiusuário vai proporcionar equipamentos para pesquisa de ponta e, o mais importante, treinaremos pessoas qualificadas para operá-los. Temos aqui graduação e doutorado em Engenharia Ambiental, mestrado em Ciência e Tecnologia Ambiental. Será um pulo de qualidade. Sempre exportamos mão de obra qualificada pro Sudeste e agora teremos condições de oferecer postos de trabalho qualificados. A FAPESQ despertou um projeto primordial”, declarou Tavares.

Atendimento urbano de esgoto sanitário básico:

Campina Grande: 95,7% da população
João Pessoa: 78%
Outros municípios: Alagoa Grande, Araruna, Areia, Bayeux, Cabedelo, Cajazeiras, Cajazeirinhas, Camalaú, Catolé, Cubati, Guarabira, Itaporanga, Lagoa Seca, Mamanguape, Mogeiro, Monteiro, Patos, Pedras de Fogo, Queimadas, Santa Rita, Sapé e Sumé.
Na Paraíba:
Em 2010 - 685.982 habitantes tinham atendimento
Em 2017 - 1.155.097 habitantes tinham atendimento
Crescimento de 68,39% em sete anos
Sistemas usados:
Lagoas de estabilização facultativa, lagoas anaeróbias, filtro biológico, lagoas de maturação e lagoas aeradas.Fonte: Cagepa

Ascom SEECT