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Encontro na Paraíba une pesquisadores e especialistas em busca de estratégias para o combate à desinformação

publicado: 04/11/2024 17h06, última modificação: 07/11/2024 11h39
O evento realizado pela UEPB contou com apoio da Secties por meio de edital Fapesq
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Em redes digitais repletas de informação, muitas vezes um mesmo fato pode ter várias versões diferentes. Pode vir repleto de fontes falsas, de dados inventados, descontextualizados; ou até mesmo pode ser satirizado. O tema é tão complexo que passou a ser estudado academicamente e combatido institucionalmente, buscando uma simetria entre os detentores do poder midiático atual e a sociedade.

Na última semana, o ‘Encontro Paraibano de Combate à Desinformação’ reuniu representantes de universidades, da mídia, de instituições governamentais, educadores de escolas e outros interessados numa tentativa de compreender melhor a problemática em torno da desinformação para melhorar as estratégias de resistência e combate.

O evento, que aconteceu no Centro de Formação de Educadores, no dia 28 de outubro; e no Campus V da UEPB, no dia 29 de outubro, foi realizado pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e apoiado pela Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior (Secties), Fundação de Apoio à Pesquisa (Fapesq), dentre outras instituições.

Celia Regina Diniz, reitora da UEPB, destacou que esta universidade mantém o grupo de estudos sobre a desinformação, o ‘Comunica UEPB’, e firmou parceria com a Secties para desenvolver esta temática.

“A desinformação pode criar problemas gigantes na sociedade, com narrativas improcedentes. Acreditamos que com esse trabalho na educação poderemos contribuir para que as pessoas tenham um olhar crítico, vejam o que está por trás de uma informação, quais são as fontes, para não cair em uma informação falsa”, ressalta a reitora Célia Diniz. Ela falou também sobre o papel das instituições, principalmente as que trabalham com educação: “Elas precisam levar às comunidades o conhecimento para que se combata a desinformação”.

Juliana Marques, coordenadora do evento, assessora de comunicação da UEPB e responsável por acompanhar o convênio da UEPB com o Supremo Tribunal Federal, no âmbito do programa de Combate à Desinformação, acrescenta que a desinformação é algo que vai seguir na nossa sociedade como um vírus circulando. “A gente tem que atuar no sentido de ter uma vacina”.

Segundo Juliana, a desinformação é um conceito complexo que abrange diversas facetas. “A fake news é uma delas. A gente pode contemplar também as deep fakes – que são aquelas a adulterações de imagem de áudio de vídeo; tem as teorias da conspiração; a hiperinformação. […] A desinformação é uma variedade de situações que permeiam o nosso cotidiano e nem sempre está relacionada a simples mentira. Pode-se desinformar falando a verdade, ou falando várias versões de um fato para a pessoa não saber em qual acreditar”, afirma.

Alterações de narrativas informativas escondem ideologias

Felipe Brasileiro, professor do departamento de Comunicação do Programa de Pós-graduação em Comunicação e do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), expressa que, às vezes, a desinformação é promovida pela imprensa ideologizada, ou pelas plataformas, sem a percepção da sociedade. “Compreendendo a ideologia dessa classe mais dominante e hegemônica, as suas intenções, nos ajuda a compreender como a desinformação está circulando no contexto da sociedade. Ela vem para atender fins políticos e econômicos”.

O professor identifica na história brasileira como a imprensa foi utilizada para sedimentar ideologias: “No período da ditadura militar, a desinformação foi utilizada como ferramenta de manipulação da opinião pública, no sentido de divulgar e de promover a instituição governo e ocultar atos não cívicos e não democráticos”.

Ainda de acordo com Felipe Brasileiro, as plataformas trouxeram apenas mais uma camada de complexidade, trazendo as questões da lógica de algoritmos de plataformas sociais.

Conforme a palestrante Mabel Dias, jornalista associada ao Intervozes, “o jornalismo vem sendo uma fonte de resistência para essa desinformação com a qual a gente vive atualmente. Mas é importante a gente frisar que a desinformação, a manipulação de conteúdo, a ocultação de conteúdo e outros estratagemas também estão presentes na mídia tradicional de hoje”.

A jornalista ressalta a ameaça à democracia no Brasil. “Grupos políticos se utilizam na desinformação como estratégia política para criar boatos e disseminar dúvidas sobre seus adversários”.

Dentre as instituições mais atingidas, a representante do Superior Tribunal Federal (STF), Gabriella Guerreiro, declarou que “das menções em respostas dos posts publicados pelo STF em redes sociais, geralmente 74% são contrários à instituição. Mas desses, pelo menos 34 ou 35% são de sites, por exemplo, de pessoas que você não sabe a procedência. Então já é uma demonstração de que pode estar vindo de ataques sistematizados”.

Como estratégia de combate à desinformação, o STF tem presença digital em sete redes sociais. “Todo o nosso conteúdo é traduzido para as redes sociais com linguagem mais fácil de ser compreendida pelos jovens”, explica Gabriella.

Outra estratégia, sugerida por Brunno Sarttori, jornalista e especialista em deepfake, o governo deve fazer campanhas explicando a existência das tecnologias. “Se as pessoas souberem que existe a possibilidade de alterar um conteúdo com tamanha realidade, as pessoas poderão desconfiar e identificar as alterações”.

O representante do Setor Acadêmico no Comitê Gestor da Internet no Brasil, Rafael Evangelista, aponta a regulação da atuação das plataformas como “um primeiro passo para começar a transformar esse ecossistema em algo pautado por critérios da qualidade da informação, da ética e da transparência”. Ele salienta: “Precisamos entender que o modelo de negócio das plataformas precisa respeitar o interesse público. Ao entregar as informações, as plataformas ajudam a construir a noção que as pessoas têm da realidade. E essa entrega se dá de acordo com os interesses de seu modelo de negócios. As plataformas exercem um poder assimétrico junto à população e isso precisa ser consertado”, explica Rafael Evangelista.

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