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Salomão Medeiros lembrou pesquisas para produção de fármacos a partir de plantas da Caatinga. Para o pesquisador Humberto Barbosa, expansão agropecuária, mineração e monocultura de sequeiro são as principais ameaças ao bioma. "Além de reduzir a biodiversidade, tais mudanças podem influenciar o clima regional", explicou.

Em sessão da Câmara, diretor do Insa destaca esforço da ciência para conservação da Caatinga

publicado: 07/06/2017 17h15, última modificação: 19/10/2018 09h52

 

A Câmara dos Deputados aproveitou a Semana do Meio Ambiente para organizar uma sessão solene em defesa da Caatinga, nesta quarta-feira (7), a fim de mobilizar parlamentares para a urgência de políticas públicas de conservação. O diretor do Instituto Nacional do Semiárido (Insa), Salomão Medeiros, destacou caminhos para a ciência contribuir na preservação do bioma. O secretário-executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Elton Zacarias, também participou do encontro.

"Temos, na área de influência da Caatinga, em torno de 27 milhões de brasileiros, muitos deles dependentes de sua biodiversidade", disse Salomão. "O Insa e seus parceiros contribuem com pesquisa e desenvolvimento em, por exemplo, um projeto de bioprospecção, cujo objetivo é encontrar biomoléculas de plantas do bioma com potencial de aplicações biotecnológicas, ou seja, produção de fármacos, cosméticos e defensivos agrícolas. Eu reafirmo o compromisso do instituto em colaborar com o desenvolvimento social, econômico e ambiental do semiárido por meio de ciência e tecnologia."

Desde 2010, pesquisadores do Núcleo de Bioprospecção da Caatinga do Insa e de universidades federais examinam plantas da região. O grupo já encontrou espécies com potencial antioxidante, bactericida, inseticida e fungicida. "Essa diversidade biológica é extremamente expressiva e ainda pouco estudada", comentou o diretor. "Boa parte desse patrimônio genético não pode ser encontrada em nenhum outro local – essa particularidade torna esse bioma não só importante para o Brasil, mas também para o mundo."

O coordenador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélite da Universidade Federal de Alagoas (Lapis/Ufal), Humberto Barbosa, distinguiu como principal ameaça à Caatinga o desmatamento resultante de expansão agropecuária, com sobrepastoreio bovino e caprino, extração insustentável de lenha, mineração, monocultura de sequeiro e urbanização.

"Além de reduzir a biodiversidade, tais mudanças ambientais na cobertura e no uso do solo podem influenciar o clima regional", explicou Barbosa. "Modelos indicam que o Nordeste brasileiro será uma das regiões mais afetadas pelas mudanças climáticas. As simulações indicam uma redução de 40% das chuvas no século 21. De fato, isso já está começando a produzir efeito. De 2011 a 2017, são sete anos de secas consecutivas e sem precedentes."

Autor do requerimento pela sessão solene, o deputado federal Rômulo Gouveia (PSD-PB) lembrou que a Caatinga ocupa 11% do território nacional e estende-se aos nove estados do Nordeste e norte de Minas Gerais. "Nossa ideia aqui é alertar as autoridades e mostrar a importância de uma política pública que possa verdadeiramente preservar, porque o bioma já sofre com a desertificação", apontou. "Tenho tratado com o ministro [Gilberto] Kassab sobre a necessidade de investirmos no Instituto Nacional do Semiárido."

Reconhecimento

O vice-presidente do Senado, Cássio Cunha Lima (PSDB-PE), sugeriu que a Câmara dos Deputados priorize a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 504/2010, que reconhece a Caatinga e o Cerrado como patrimônio nacional, ao alterar o parágrafo 4º do artigo 225. "Existe essa lacuna no texto constitucional, que precisa ser preenchida. O Senado já votou essa matéria e, portanto, desde já, lanço o desafio de os deputados federais enfrentarem essa votação, para que nós possamos inserir esses dois biomas na nossa Carta Magna."

Cunha Lima lamentou os riscos gerados pela degradação da Caatinga na vulnerabilidade climática. "A desertificação é irreversível em parcela considerável do nosso território. Já temos uma área correspondente ao estado de Santa Catarina que se caracteriza como deserto. Portanto, estamos deixando de ser uma região semiárida para nos transformarmos em uma região árida."

O governador do Piauí, Wellington Dias, citou a degradação que assola a região de Gilbués, no sul do estado, devido a um período de intensa extração de diamante. "Temos hoje a maior área em processo de desertificação do Brasil, cerca de 10 mil quilômetros quadrados", informou. "Iniciamos uma experiência piloto com o Ministério do Meio Ambiente, mas descobrimos o quanto é caro recuperar o que o homem destruiu. Por essa razão, a gente tem que alertar as atuais e as novas gerações. Se é desafiador cuidar da Amazônia, imagine de uma região já caminhando para o [clima] árido, ou seja, semiárida."

Dias enfatizou a necessidade de pesquisa para dimensionar as perspectivas de desenvolvimento. "A gente ainda nem conhece direito os biomas do nosso país e já estamos destruindo, por exemplo, um potencial para a medicina", disse.

Fonte: MCTIC