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Pesquisa da UFRN, financiada pelo MCTIC e realizada em parceria com Israel, revela alta produtividade da planta no semiárido nordestino

Cultivo do cártamo no semiárido é alternativa para produção de biocombustível

publicado: 12/12/2019 14h42, última modificação: 12/12/2019 14h42
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O cultivo do cártamo no semiárido nordestino pode se tornar uma alternativa de sucesso para a produção de biocombustíveis como biodiesel ou bioquerosene. É o que comprova um projeto coordenado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em parceria com o Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) e com a Ben-Gurion University, de Israel, e financiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

A pesquisa conseguiu produzir com o cártamo - planta exótica introduzida no Brasil e adaptada às condições do sertão nordestino - uma quantidade de óleo considerável. Em média, a produtividade é de 6 toneladas/hectare de sementes, o dobro da produção média de soja, que é de 3 toneladas/ha. Além disso, a quantidade de óleo no interior da semente do cártamo chega a 45%, enquanto na semente da soja é de 18%. Outro fator relevante é que a planta pode ter até quatro ciclos de cultivo por ano no semiárido.

“O cártamo tem despontado como uma oleaginosa potencial para desenvolvimento e crescimento no semiárido nordestino”, afirma a coordenadora do projeto, professora Juliana Espada Lichston, da UFRN. Segundo ela, o semiárido é impróprio para muitas culturas, mas o plantio do cártamo pode gerar lucros para os agricultores da região e ajudar também na recomposição de áreas em processo de desertificação.

A pesquisa com o cártamo teve início em 2009 e passou por diversas fases, como análises laboratoriais, cultivo isolado em campo e cultivo em consórcio com outra oleaginosa. O trabalho é realizado no campus do IFRN, localizado no município de Apodi (RN), no coração do semiárido nordestino, a cerca de 340 quilômetros de Natal.

O projeto conta com a participação de cerca de 150 agricultores familiares. Eles foram entrevistados para entender as principais necessidades e dificuldades em campo e adaptar o cultivo à realidade da região. “O agricultor familiar é o foco do nosso trabalho. A região é muito carente e as pesquisas científicas precisam sair das universidades para mudarem essa realidade. Queremos ver um sertão nordestino verde e produtivo, com agricultores vivendo de forma digna”, destaca Juliana Lichston.

A parceria com a Ben-Gurion University, de Israel, começou há três anos. Os pesquisadores conseguiram aprimorar o desenvolvimento do cártamo no deserto israelense, técnicas que foram utilizadas no cultivo da planta no semiárido nordestino. O resultado foi uma produtividade maior em campo, com menor custo, menos utilização de água e nenhum defensivo agrícola.

Fonte alternativa

“A pesquisa aponta uma alternativa de matéria-prima para a produção do biodiesel, que está crescendo na matriz de combustíveis brasileira”, ressalta o coordenador de Inovação em Tecnologias Setoriais do MCTIC, Rafael Menezes. Atualmente, o óleo diesel fóssil do Brasil, usado como combustível para vários tipos de veículos, conta com uma adição de 11% de biodiesel. E esse índice vai continuar subindo um ponto percentual até 2023.

De acordo com Rafael Menezes, os produtores querem encontrar fontes de matérias-primas mais baratas para o biodiesel. A maior parte da produção no Brasil hoje, cerca de 80%, é derivada da soja. Outros 15% têm como fonte o sebo bovino e 5% deriva de oleaginosas como girassol e óleo de algodão. “Nosso papel na pesquisa, desenvolvimento e inovação é encontrar fontes de matéria-prima que sejam adaptadas às condições de clima e solo do Nordeste e, principalmente, do semiárido”, afirma o coordenador de Inovação em Tecnologias Setoriais do MCTIC.

Nova fase

A pesquisa com o cártamo no semiárido terá continuidade e vai se estender até 2022. Pela primeira vez, a pesquisa vai realizar o cultivo do cártamo em consórcio com a jojoba, outra oleaginosa. Além disso, incluirá experimentos em campo com seis variedades diferentes do cártamo para definir qual delas será a melhor indicação para os agricultores.

Nesta nova fase, em colaboração com equipe de Israel, o projeto também vai testar fatores como germinação e resistência da planta à falta de água, excesso de calor e salinidade. “Vamos avaliar a resistência do cártamo ao nível máximo de estresse no campo e ver até onde podemos chegar para que ele seja produtivo”, explica a coordenadora do projeto, Juliana Lichston.

O trabalho conta com a colaboração de um grupo de professores das três instituições envolvidas, UFRN, IFRN e Ben-Gurion University, além da participação de 65 alunos de graduação e de pós-graduação. Os estudantes participam de todo o processo, das análises laboratoriais ao cultivo e coleta em campo. “Queremos formar jovens cientistas que tenham dentro de si uma semente transformadora da realidade social do nosso país”, ressalta a coordenadora do projeto.

Parceria com Israel

O projeto de cultivo do cártamo é mais um exemplo da colaboração entre Brasil e Israel na busca de soluções para o semiárido nordestino. “Essa cooperação com Israel é muito importante porque o país detém muita tecnologia de gestão de recursos hídricos e da convivência com o ambiente árido. Hoje em dia, a ideia não é brigar com o semiárido, mas sim se adaptar às condições da região”, reforça o coordenador-geral de Estratégias e Negócios do MCTIC, Eduardo Soriano.

Para Soriano, incentivar atividades econômicas no semiárido sempre foi um desafio. Segundo ele, a parceria com a Ben-Gurion University é fundamental porque o centro desenvolve tecnologias para o cultivo de plantas em ambientes salino ou com pouquíssima água, como no semiárido. “Agora, a ideia é disseminar o cultivo do cártamo no semiárido brasileiro.”

MCTIC