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Colírio contra danos do diabetes é desenvolvido por bolsista
Formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Jacqueline Mendonça, especializou-se em oftalmologia pela mesma instituição e seguiu para uma subespecialização em Retinopatia Diabética no departamento de oftalmologia da Universidade de Harvard, em Boston, EUA. De volta ao Brasil, atuando no Núcleo de Medicina e Cirurgia Experimental da Unicamp, desenvolveu estudos para melhor entender o problema, associado ao diabetes. Em parceria com a Professora Maria Helena Santana, titular do Instituto de Química da Unicamp, desenvolveu a fórmula de um colírio para tratar, inicialmente de forma preventiva, os danos causados pelo diabetes.
De onde veio seu interesse por esse estudo?
Como médica oftalmologista, sou diariamente confrontada com pessoas diabéticas, muitas em plena idade produtiva, com a doença retiniana em fases avançadas. Pior do que isso, podendo oferecer somente tratamentos invasivos, com risco, caros e com resultado visual limitado. Deste cenário veio a minha motivação e inspiração: propor uma nova modalidade de tratamento não-invasivo, que evite, ou retarde, a progressão dessa complicação visual, muitas vezes irreversível.
Quais são as perguntas, hipóteses e dificuldades que permearam sua pesquisa?
A partir do momento em que percebemos que o conhecimento científico poderia se transformar em uma inovação, eu a Professora Maria Helena, estabelecemos uma profícua parceria, onde a necessidade médica não respondida (tratamento da retinopatia diabética de forma não-invasiva) foi inserida num processo de produção da engenharia química, com as especificidades do sistema ocular no ambiente diabético. É somente com a aproximação de diferentes áreas do conhecimento que poderemos avançar no processo de inovação. Projetamos as próximas fases de desenvolvimento com testes comprobatórios de eficiência, de estabilidade e segurança microbiológica, entre outros, para ser possível a aprovação da agência regulatória para testes clínicos em pessoas com diabetes e em risco de redução significativa da visão.
Qual a importância do seu estudo para a realidade brasileira? E no âmbito internacional?
Entendemos que a possibilidade de uma nova modalidade de tratamento acessível e não-invasivo às pessoas com diabetes e em risco de perda visual poderá ser impactante. Hoje, estima-se que no Brasil existam em torno de 8 milhões de diabéticos. No mundo, em torno de 350 milhões de pessoas. Isto revela um caráter epidêmico, com estimativas de aumento nas próximas décadas. Dados publicados na prestigiosa revista médica The Lancet, em 2017, mostram que em 2015 foram gastos US$1,3 trilhão no mundo com diabetes, sendo que 2/3 para gastos médicos diretos e 1/3 para os gastos indiretos, como redução na produtividade. Estes números mostram que o diabetes não é somente uma preocupação de saúde, mas também uma preocupação econômica e financeira. Quarenta por cento desse universo de pessoas com diabetes podem apresentar algum grau de retinopatia. Se o nosso colírio for demonstrado ser seguro e eficiente em preservar a visão nestas pessoas, poderemos amenizar esta preocupante complicação crônica do diabetes.
(Brasília–Redação CCS/CAPES)