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Pesquisa Paraíba - Peld Ripa

Ciência do Semiárido: O Peld Ripa une pesquisa, inovação e ciência cidadã na Paraíba

publicado: 24/07/2025 11h10, última modificação: 14/08/2025 17h08
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Instituições e pesquisadores unidos pela conservação e desenvolvimento sustentável no Semiárido

Valécia Medeiros

 

Com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq), o Programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração Rio Paraíba Integrado (Peld Ripa) tem mostrado como a ciência pode gerar impacto real quando se aproxima da sociedade. A iniciativa reúne universidades, centros de pesquisa, comunidades locais e gestores públicos para compreender e preservar a Bacia do Rio Paraíba, a maior do estado e vital para mais de 60% da população paraibana.

Criado em 2020, o Peld Ripa é desenvolvido na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) através do Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação (PPGEC), envolve 24 instituições e mais de 500 pesquisadores, atuando em três regiões estratégicas da bacia hidrográfica, alto, médio e baixo Paraíba e também em outras regiões com foco em Unidades de Conservação. Com foco em temas como transposição de água e qualidade hídrica, gestão e conservação de ecossistemas terrestres e aquáticos e suas populações, o Programa se destaca pela abordagem interdisciplinar e pela conexão direta com as comunidades locais.

Peld Ripa é um dos projetos chancelados pelo CNPq, financiado pelo Governo da Paraíba, por meio da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior (Secties) executado através da Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq), com o aporte de R$ 200 mil. Financiado também pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Programa tem como objetivo avaliar a estrutura e o funcionamento ecossistêmico da bacia hidrográfica do rio Paraíba. O projeto foi recomendado na chamada CNPq/MCTI/CONFAP-FAPS/PELD nº 21/2020, ação do programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração, originado no CNPq há 27 anos. Patrícia Costa, coordenadora de Programas e Projetos da Fapesq, esclarece que o Peld Ripa é o único projeto Peld no Brasil totalmente financiado por uma fundação estadual de apoio à pesquisa, aprovado no mérito do CNPq para integrar os sítios de pesquisa de longa duração. “Os resultados confirmam a competência dos pesquisadores do Peld Ripa, que apresentam excelentes projetos de divulgação científica”,  informa Patrícia Costa.

Com duração de quatro anos para executar as pesquisas, o Peld Ripa tem sido um importante instrumento das políticas públicas. A atuação é propositiva e busca integrar a infraestrutura das universidades, dos institutos de pesquisas e laboratórios. A partir de informações e dados de pesquisa, embasa o poder público com subsídios para a geração de um conhecimento ambiental crítico e compartilhado entre a sociedade.

Para o coordenador do projeto, professor Etham Barbosa (UEPB), a proposta rompe os muros da academia ao integrar pesquisa, educação e ação comunitária. “O Rio Paraíba é mais do que um recurso hídrico: ele carrega a história e a sobrevivência de milhares de paraibanos. Nosso trabalho é entender esse sistema vivo e dialogar com quem vive nele”, afirma.

A Caatinga é destaque nas pesquisas do Peld Ripa por seu papel crucial no combate às mudanças climáticas. Segundo Aldrin Pérez Marin (INSA/MCTI), é o bioma mais eficiente no sequestro de carbono, essencial para garantir água, solo e qualidade de vida. O pesquisador atua junto a agricultores e movimentos sociais, unindo saberes tradicionais e ciência para conter a desertificação.

O professor Helder Gomes (UFPB), coordenador do programa NEXUS Caatinga, defende o modelo de “paisagens agrícolas multifuncionais”, que combinam produção agroecológica com conservação. “Mais de 80% da cobertura original da Caatinga já foi modificada. Restaurar produzindo é a chave para regenerar o Semiárido”, afirma.

Dilma Trovão, coordenadora de pesquisa do INSA, completa: “Diante da desertificação, precisamos nos perguntar que tipo de sociedade queremos construir. Somos parte da natureza. Proteger o ambiente é proteger a nós mesmos. A Caatinga é resiliente e cria suas próprias estratégias de sobrevivência. Temos muito que aprender com ela, especialmente sobre adaptação e convivência com as condições do Semiárido.

Na linha da inovação, o projeto desenvolveu um foguete dispersor de sementes, criado por Renan Aversari Câmara (UFPB), com orientação do professor Bartolomeu Israel (UFPB). A tecnologia encapsula sementes nativas em pellets para melhorar a germinação e já apresenta resultados promissores, estando em processo de registro. Bartolomeu ressalta que essa experiência pioneira na Caatinga gerou artigos científicos, capítulo de livro e faz parte da tese de doutorado de Renan no PRODEMA, mostrando como a pesquisa pode trazer soluções inovadoras para a restauração do Semiárido.

A educação ambiental, coordenada por Adriane Teixeira Barros e o GGEA/UEPB, atua em escolas e comunidades com palestras, oficinas e cursos como meliponicultura, unindo ciência cidadã, geração de renda e autonomia local. O grupo também pesquisa percepção ambiental e produz materiais didáticos, alcançando cerca de 16 municípios e promovendo uma educação crítica e transformadora.

A vice-coordenadora do Peld Ripa, Joseline Molozzi, destaca ações que aproximam a ciência da população, como o “Peld Ripa na Praça”, o programa “Universidade de Portas Abertas” e atividades na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Ela ressalta também a colaboração com o Observatório da Caatinga, que monitora e divulga informações sobre a conservação desse bioma fundamental para o Semiárido.

O Peld Ripa é exemplo de ciência viva e comprometida com a transformação social e ambiental. Seu legado vai além dos dados: recupera ecossistemas, fortalece comunidades e inspira políticas públicas sustentáveis. Uma semente plantada com ciência, regada com participação e colhida com esperança. Em 2025 lançou um documentário apresentando as principais ações do Programa.

No âmbito da popularização científica o Programa apresentou um dos resultados mais expressivos da pesquisa-ação voltada à comunicação pública da ciência com o desempenho alcançado nas redes sociais, com mais de 118 mil visualizações, superando alcance e engajamento de outros PELDs, criados nos mesmos anos, como também de todos os mais de 40 PELDs distribuídos pelo Brasil. Em 2025 lançou um documentário apresentando as principais ações do Programa.

Fotos: Ascom Peld Ripa/Maré Produtora