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Dia da Caatinga

Bioma ocupa 92% do território da PB

publicado: 29/04/2024 14h18, última modificação: 30/04/2024 14h29
Presente em 117 dos 223 municípios do estado, Caatinga tem cenários exuberantes e é rica em biodiversidade
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Reserva Olho D'Água - Foto: Valécia Estrela

Hoje é o Dia Nacional da Caatinga, bioma que está presente em 117 dos 223 municípios paraibanos e ocupa 92,7% do território do estado, segundo dados do MapBiomas Brasil. Seu nome, de origem tupi-guarani, significa “mata branca”. A nomenclatura foi definida porque a região tem aspecto de vegetação seca e esbranquiçada, com uma biodiversidade que consegue se adequar a elevadas temperaturas e à falta d’água. O bioma compreende uma área de 844.453 km2 em todo o Brasil, o equivalente a 11% do território nacional.

A vegetação da Caatinga é subdividida em hipoxerófila, que é composta por plantas de porte arbustivo, e hiperxerófila, com predominância de arbóreos. A presença de espinhos e caducifólia também são características marcantes da flora desse bioma. As espécies nativas mais recorrentes são: Facheiro, Mandacaru, Xique-xique, Cacto, Catingueira, Jurema, Angico, Baraúna, Barriguda, Umbuzeiro, Amburana e Aroeira.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Caatinga tem pelo menos 481 espécies de plantas e animais com risco de extinção, o que torna o bioma o terceiro mais ameaçado à sobrevivência da fauna e flora no país, perdendo apenas para o Cerrado e para a Mata Atlântica, respectivamente. Na flora da Caatinga, são exemplos de espécies consideradas vulneráveis ou em perigo de extinção a Aroeira, a Amburana, a Baraúna e a Quixabeira.

Atualmente, os principais desafios na preservação da Caatinga são os déficits hídricos — devido aos extensos períodos de seca, elevadas temperaturas, predominância de solos rasos e pedregosos — e a explo r a ç ã o extensiva e desordenada do bioma. O geógrafo e professor do Departamento de Geociências da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Saulo Vital, destaca que a Caatinga tem uma característica de grande resiliência frente aos extremos climáticos. “Naturalmente, esse ambiente passa a maior parte do ano sob condições de grande escassez hídrica. Ao menor sinal de chuva, a paisagem se modifica completamente, sobretudo a vegetação, que responde a essas novas condições. A vegetação adaptada a essas condições de rigorosidade é denominada de xerófila”, detalha.

O especialista explica que, apesar das condições de rigorosidade climática que deixam a vegetação com aspecto cinzento durante boa parte do ano, a Caatinga é um bioma muito rico em biodiversidade. “As mudanças climáticas têm afetado todo e qualquer bioma da face da terra, assim como a Caatinga. Mas é necessário também levar em consideração os fatores de degradação de ordem local, pois muitos desses impactos advêm de intervenções humanas. A educação ambiental tem um papel crucial na preservação, uma vez que a conscientização dos cidadãos é a peça-chave nesse processo”, pontua.

Proteção A Divisão de Florestas (Diflor) da Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema) executa projetos de recuperação de áreas degradadas e trabalha na regularização, monitoramento e fiscalização de licenciamentos ambientais. O objetivo das ações é propiciar condições de exploração e manejo adequados, diminuindo os danos e incentivando a sustentabilidade e proteção da região. A Caatinga vivencia a exploração desregular e contínua dos seus recursos naturais.

Essas ações antrópicas, ou seja, provocadas pelo homem, são criminosas. A Lei no 9.857, de 2012, conhecida popularmente como a Lei de Quintans, dispõe sobre a autorização e proteção da vegetação do bioma. Além disso, o Decreto no 24.414, de 2003, trata da proteção e exploração sustentável da cobertura florestal.

Bacias hidrográficas

A Diflor lembra que a hidrografia da Caatinga paraibana está dividida em 11 bacias hidrográficas, sendo elas:

Rio Paraíba, Rio Abiaí, Rio Gramame, Rio Miriri, Rio Mamanguape, Rio Camaratuba, Rio Guaju, Rio Piranhas, Rio Curimataú, Rio Jacu e Rio Trairi. As cinco últimas são bacias de domínio federal.

As bacias são formadas por dois tipos de rios: os litorâneos e os sertanejos. Os litorâneos são de curta extensão, perenes e deságuam no oceano atlântico. Já os sertanejos são de grande extensão, temporários e correm em direção ao Rio Grande do Norte, mas deságuam no oceano Atlântico.

Reserva Olho D'Água - Foto: Valécia EstrelaReserva Olho D’água das Onças é exemplo de conservação

Situada entre o Curimataú e o Seridó da Paraíba, a 225,8 km de João Pessoa, o município de Picuí possui a Reserva Ecológica Olho D’água das Onças. A organização não governamental tem como principal missão proteger e conservar a Caatinga e sua biodiversidade. Os trabalhos envolvem ações de educação ambiental, além do cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, criado pela Organização das Nações Unidas (ONU).

O projeto Olho D’água das Onças conta com uma área de reserva de 20,73 hectares, dos quais aproximadamente 18,26 hectares são de vegetação nativa da Caatinga. Essa região é destinada à preservação e ações de conservação mediante programa de manejo. Já os outros 2,48 hectares consistem na área de apoio da reserva, onde está localizado o Museu da Caatinga José Crisólogo da Costa. No local, ainda há o fomento do turismo ecológico e educativo por meio da associação local Trilhas na Caatinga, em parceria com entidades turísticas
de outras cidades, e a economia criativa com capacitação e valorização de produtos artesanais e da cultura regional, além da produção de mudas e proteção aos animais.

Uma das principais iniciativas é a colaboração com as universidades, que desempenham um papel crucial na formação de alunos e professores das cidades circunvizinhas. Projetos como o de Educação Ambiental — fruto da parceria com o campus de Picuí do Instituto Federal da Paraíba (IFPB) e financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq) — são pontes para o conhecimento e a conscientização. A criação de trilhas na reserva, com exposições de espécies nativas da Caatinga, e as exposições didático-pedagógicas no Museu da Caatinga ajudam no aprendizado, como também aproxima as comunidades locais da sua rica biodiversidade.

Ademais, as ações de educação ambiental se estendem além dos limites da Reserva. A organização realiza o levantamento da fauna e flora em cidades do Seridó e Curimataú. Os dados contribuem para a elaboração de roteiros e materiais didáticos e a conscientização sobre a importância da preservação ambiental e cultural dessas regiões. Essas iniciativas visam proteger o meio ambiente, impulsionando o desenvolvimento sustentável, ainda criando oportunidades, respeitando os recursos naturais e as tradições locais.

A Reserva Olho D’água conta com mais de 250 espécies nativas da Caatinga, que atualmente fazem parte do herbário, uma coleção de espécies desidratadas. Elas são devidamente armazenadas e catalogadas para contribuição em estudos futuros. Mais de 200 mudas de espécies vegetais lenhosas nativas serão plantadas em comemoração a este dia 28 de abril, por meio do projeto de Restauração Ecológica, que é coordenado pela pesquisadora Vilma Trovão, do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da UEPB.

Serviço
O acesso à Reserva Ecológica Olho D’água das Onças é gratuito, mas quem deseja fazer a trilha guiada precisa pagar taxa de R$ 5 e agendar o passeio pelo Instagram @reservaolhodaguadasoncas ou WhatsApp (83) 98103-4423.

Anderson Lima
Página Radar Ecológico - Especial para A União - 28/04/2024

Fotos: Reserva Olho D'Água - Crédito: Valécia Estrela