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Bingo dá novos passos para instalação no sertão da Paraíba

publicado: 20/12/2021 09h35, última modificação: 22/12/2021 09h39
Enquanto o Governo do Estado assina termo de outorga, pesquisadores do Inpe desenvolvem os equipamentos que funcionarão em Aguiar
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A implantação do radiotelescópio Bingo no município de Aguiar, no sertão do estado, vai dando seus passos. Na terça-feira passada, o governador João Azevedo assinou um termo de outorga para concessão de recursos de R$ 12 milhões para a construção do equipamento, que encontrou na Paraíba o local ideal para ser implantado e investigar os segredos do espaço. Tecnicamente, o trabalho continua: o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) segue testando equipamentos que vão compor o radiotelescópio.

O físico Élcio Abdalla, coordenador-geral do projeto Bingo (palavra que é a abreviação de Baryon Acoustic Oscillations from Integrated Neutral Gas), afirma que esse investimento do Governo do Estado vai impulsionar o projeto de várias formas. “Da forma material é a complementação que nós necessitávamos para ter tudo com certeza no lugar no ano de 2022”, disse, no evento. “Mas tem mais do que isso. O apoio que está sendo dado também é uma certeza de que nós estamos melhor agrupados, que temos um impacto social bastante relevante, que vamos ter um impacto educacional nesse projeto que vai ser muito importante”.

Por aqui, a Universidade Federal de Campina Grande serve como uma base local para o projeto e vai treinando estudantes no assunto. Professores da Engenharia Elétrica juntamente com os professores da Física da UFCG vão desenvolvendo o projeto do Uirapuru, um radiotelescópio montado com um protótipo de antena corneta do Bingo.

No Inpe, em São Paulo, os cientistas vão acompanhando a produção das cornetas que vão compor o radiotelescópio em Aguiar. O equipamento, que leva esse nome por causa da semelhança no formato com o instrumento musical, coleta as ondas de rádio espaciais captadas pela antena parabólica do Bingo. São 4,3 metros de comprimentos, com 1,9 metro de diâmetro na boca e serão 28 cornetas formando uma “plantação” no local.

“Estamos acompanhando e qualificando a empresa que constroi as cornetas”, informa . Mônica Rocha, diretora substituta do instituto, que também esteve presente ao evento em João Pessoa. “Recebemos uma unidade para testes na ultima sexta-feira (10/12)”.

“A gente tem acompanhado de perto a construção em massa das cornetas, tem feito bastante sugestões à empresa que está desenvolvendo as cornetas, de forma a melhorar a qualidade”, diz o astrofísico Alex Wuensche, pesquisador da Divisão de Astrofísica do Inpe. “Temos um protótipo de receptor já montado, estamos aguardando os componentes para fechar o receptor completo, que devem chegar em meados de fevereiro – são amplificadores comprados da China, então eles levam um tempinho pra chegar”.

A expectativa é de que o receptor esteja montado e testado até o final de abril do ano que vem. “A partir daí a gente começa a produção em massa de receptores”, explica ele. “O que a gente tem falado é que, com a infraestrutura que nós temos hoje e os espelhos – cuja assinatura é agora – a gente pode colocar pelo menos uma corneta – talvez três, por conta do formato de montagem – pra funcionar ainda este ano”.

Espelhos, no caso, são aqueles que vão compor a imensa antena parabólica do tamanho de um campo de futebol que será erguida em Aguiar, apontada para o céu. A antena é fixa, permanece apontada para o mesmo ponto. O que se move é o céu: ele gira e passa em frente à mira do Bingo.

Inpe tem rede de radiotelescópios

Enquanto o Inpe encontrou no sertão da Paraíba um local isolado o suficiente para o funcionamento ideal do Bingo – longe de sinais que possam interferir na pesquisa do equipamento – , o instituto possui dois outros radiotelescópios em seu campus no município de Cachoeira Paulista, no Vale do Paraíba, no estado de São Paulo. São o BDA e o GEM.

Eles operam na mesma frequência ou muito próximo à frequência do Bingo. “Eles estão em processo de manutenção e devem voltar a funcionar em 2022”, diz Alex Wuensche. “O GEM é um telescópio que opera em várias frequências e funcionará como uma ‘extensão’ do Bingo em São Paulo, observando a mesma região do céu em uma frequência muito próxima”.

“O BDA é um interferômetro – atualmente voltando a operar com sete antenas, mas o total são 26 antenas”, continua o astrofísico. O radiotelescópio estava fora de combate após ser danificado em um incêndio no ano passado, mas está voltando à ativa. “O BDA opera também na frequência do Bingo e é dedicado à física solar, mas pode cobrir a região que o Bingo observa à noite, aumentando a sensibilidade do Bingo se combinamos os resultados”.

A ideia é que os diferentes radiotelescópios observem os mesmos pontos do céu para que os resultados possam ser comparados.

Vegewgwre

Os radiotelescópios não são como os telescópios que estão no imaginário popular, em que pessoas pesquisam o céu olhando através de lentes superpotentes. Eles captam ondas de rádio e as “traduzem” em imagens. São como rádios de pilha ou telefones celulares superpotentes, trilhões de vezes mais sensíveis.

O investimento é de R$ 20 milhões, oriundo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Governo do Estado, através da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (FapesqPB). E o evento da assinatura do termo de outorga mostrou aos cientistas que o radiotelescópio pode extrapolar suas funções originais, já conquistando a simpatia da fatia da população de Aguiar e do estado que está por dentro dos acontecimentos.

“Quando começamos o projeto, não esperávamos essa receptividade”, afirma Élcio Abdalla. “Nós viemos para cá com a visão de um local científico promissor. A primeira surpresa depois do local físico foi a recepção da Universidade Federal de Campina Grande e depois do Governo e da população”.

Esse é um ponto que ajuda na ampliação da influência do Bingo. “A ciência se expande para outras direções, que são a social e a educacional. Já tínhamos a científica e a tecnológica preparadas e em ação, a educacional nós tínhamos pensado, mas ainda não tínhamos realizado”, conta ele. “Podemos esperar realmente um futuro com várias direções se completando, com importância inclusiva, social, científica e tecnológica”.

Por: Renato Félix (Assessoria SEC&T)