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30 anos Fapesq

A missão de ‘traduzir’ a ciência para o grande público

publicado: 12/06/2022 14h53, última modificação: 04/08/2022 14h55
O jornalismo científico faz parte da história da Fapesq-PB, divulgando a pesquisa produzida na Paraíba
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Wilma Emery - foto atual (Arquivo Pessoal)
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Helda Suene - apresentando cerimonial da Fapesq (Arquivo Pessoal)
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Helda Suene - apresentando cerimonial da fapesq.jpeg

A ciência lida com elementos muito particulares e, por isso, desenvolve um linguajar muito próprio – até difícil para as pessoas de fora da bolha. Além disso, trabalha ideias que muitas vezes nem estão no campo de observação de uma pessoa comum. Por isso, o jornalismo científico tem uma função importante: é ele que trata de “traduzir” esses pensamentos, pesquisas e jargões para o consumidor comum da notícia. E o jornalismo teve papel importante na divulgação das ações da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq-PB) e dos projetos que ela vem financiando desde sua implantação, que em 2022 completa 30 anos.

Wilma Wanda Emery foi assessora de imprensa da fundação desde que ela nem tinha sede própria, ainda. E só saiu em 1999, quando passou a trabalhar na Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária (Emepa), em João Pessoa. “Eu comecei a trabalhar na Fapesq-PB quando ela funcionava numa salinha no prédio da Associação Comercial de Campina Grande”, conta ela. “Tudo estava começando”.

A jornalista chegou à Fapesq-PB, em Campina Grande, vinda do jornal A União, em João Pessoa, onde trabalhava no setor de pesquisa, além de ter editado o suplemento infantil O Pirralho, um suplemento feminino e de escrever artigos duas vezes por semana para o segundo caderno. O ambiente da redação era muito diferente do que ela encontrou na Fundação de Apoio à Pesquisa. “As coisas corriam dentro de muita formalidade. Era um ambiente totalmente diferente das redações por onde andei”, recorda. “Eu sentia muita falta da irreverência dos colegas, das noticias que entravam e saÍam”.

Tratar a ciência como notícia também foi uma novidade. “Por essa época, não havia jornalistas especializados em divulgação científica na Paraíba. Você abria um jornal e não encontrava algum destaque, alguma coluna sobre assuntos científicos”, afirma. “Claro que os jornais divulgavam as descobertas científicas, as grandes invenções – eram notícia de primeira página. Mas tudo acabava ali, no ponto final da notícia, sem muita explicação sobre os impactos que aquela descoberta poderia causar na vida da população”.

Chegando à Fapesq-PB, começou o trabalho de levar à população as conquistas da fundação em prol da ciência, tecnologia e inovação na Paraíba. “A gente já sabia que a produção científica sempre foi divulgada de forma acadêmica, em revistas não públicas. Além do fato que os cientistas sempre deram preferência a apresentar seus trabalhos a seus pares”, explica Wilma. “O jornalismo científico ficava de lado. Mas foi o presidente Geraldo Baracuhy que me orientou, que me dava as pautas, que me falava das instituições de fomento, que me mostrava os projetos de pesquisa, apontando quais os que poderiam beneficiar mais a população”.

Foi preciso, então, se reinventar. Wilma Emery conversava até com as pessoas que visitavam a Fapesq-PB. E não tinha vergonha de perguntar sobre os assuntos a respeito dos quais não tinha domínio. “Meus textos andavam de sala em sala, sempre tive a humildade de procurar quem mais sabia”, lembra. Além disso, viagens para seminários e congressos da Associação Brasileira de Jornalismo Científico a ajudaram a conhecer melhor a rotina de outros colegas e como lidar com os desafios. “Eram eventos únicos, para se conhecer muita gente ligada a ciência e também conhecer jornalistas e suas histórias, suas dificuldades na divulgação da ciência”.

Comunicação ganha importância

Helda Suene, atual assessora de comunicação da Fapesq-PB, começou na fundação em 1998. Ela começou como revisora no extinto jornal Correio da Paraíba em 1985, logo que entrou no curso de Comunicação Social, na Universidade Federal da Paraíba. Depois de trabalhar na assessoria de imprensa da Fundação Espaço Cultural e na Secretaria de Estado da Comunicação, chegou ao jornal A União.

“A União já era conhecida como a escola dos jornalistas iniciantes. Em A União eu passei boa parte do meu aprendizado”, lembra. Mas a redação não a fez abandonar a assessoria de imprensa. Em 1993, passou a trabalhar na sucursal do jornal em Campina Grande e nunca mais deixou a cidade. “Em 1998, recebi o convite de Vicente de Paulo Albuquerque Araújo, então presidente da Fapesq, para assumir como chefe do setor de comunicação”, conta.

Após passar pelas redações do Diário da Borborema e do Jornal da Paraíba, hoje ela se dedica exclusivamente à Fapesq-PB. “Ao longo dos anos, a fundação evoluiu bastante e aumentou muito a demanda”, diz. “Quando entrei na Fapesq eu era uma ‘euquipe’, pois trabalhava sozinha – resguardando alguns períodos em que pude contar com a ajuda de um estagiário de comunicação, Fernando Ivo, e da jornalista Fernanda do Rego, que assumiu a assessoria da Mesorregião do Semiárido, um programa temporal, que esteve sob a responsabilidade da Fapesq por um período no passado. De três anos para cá o Setor de Comunicação da Fapesq ganhou dois funcionários e se consolida num crescente de atividades e oportunidades de trabalho, com novos projetos”.

Nas redações, escrevendo sobre diversos assuntos na reportagem diária ou em matérias especiais, ela conheceu pesquisadores e professores das universidades, tomando contato com a ciência produzida na Paraíba. “Fazia muitas matérias especiais sobre pesquisas, quando tive meus primeiros contatos com o jornalismo científico. Sempre me encantou essa área”, conta. “Até os filmes que eu mais gosto são de ficção científica”.

Hoje o setor de comunicação é formado, além de Helda, por Carolina Brito (social mídia) e Bianca Liege (designer). “Geralmente, recebemos as demandas da presidência e dos setores técnico e administrativo. Lançamento de editais, novos contratos/convênios assinados, resultados de pesquisas, investimentos em pesquisas – enfim, todo tipo de comunicação necessária para levar ao público as ações da Fapesq”, explica. “O texto pronto é enviado para o setor de design produzir a arte e depois o material é enviado para as redes sociais e ‘mail list’ de imprensa e pesquisadores. Durante a pandemia do vírus da Covid 19 tivemos que nos reinventar e passamos a levar a informação ao nosso público através de lives no canal da Fapesq no YouTube e pelo instagram”.

Os desafios da comunicação e enfretar o negacionismo

As fake news e o negacionismo são, para Wilma Emery, o grande desafio do jornalismo científico nos dias atuais. “A maior responsabilidade é lutar contra o negaciosnimo que circula nas redes sociais, espalhando mentiras e narrativas anticiência”, diz, dando como exemplos a campanha feitas contra as vacinas que protegem contra a covid-19 e a promoção de uso de medicamentos sem evidências científicas. “Há muita desinformação e isso afeta diretamente a vida das pessoas. Isso é um golpe na ciência. Eu vejo que o jornalismo cientÍfico precisa se reinventar, reunindo atores para uma tomada de novas decisões e novas atitudes contra o negacionsimo”.

“A ciência não tem o espaço que merece, tanto em termos de investimentos, quanto nos meios de comunicação”, completa Helda Suene. “Por ter trabalhado em redação de jornal percebia as prioridades voltadas para a educação, saúde, segurança. É inegável a importância dessas áreas porém há que se dar o real valor à base de tudo, que é a ciência, a pesquisa”.

Para ela, um fator primordial em jornalismo científico é o cuidado que se deve ter ao divulgar determinados resultados de pesquisa. “A informação que chega ao público pode provocar alegria, mas também pânico, dependendo do que se divulgue. Sempre prezar pela verdade”, alerta.

Renato Félix (Assessoria SEC&T)