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2022 é o Ano do Letramento Científico na Alfabetização
Este será o Ano do Letramento Científico na Alfabetização nas ações do Integra Educação Paraíba, o Regime de Colaboração em Educação do Governo do Estado, por meio da Secretaria Estadual da Educação e da Ciência e Tecnologia, estabelecido por lei. Atualmente, através dele, estão integrados 221 municípios da Paraíba, dos quais participam 2.445 escolas que ofertam anos iniciais, onde estudam cerca de 208 mil estudantes (desses anos) e que são beneficiados por esse processo; apoia 12 mil professores, direta ou indiretamente. A ênfase no Letramento Científico é um diferencial em um esforço educacional para alfabetizar 100% dos estudantes paraibanos na idade correta.
Segundo análises realizadas pela Secretaria de Estado da Educação e da Ciência e Tecnologia da Paraíba, o nascedouro de todo o processo de desigualdade na educação é a alfabetização não ter ocorrido na idade certa. Isso pode acontecer por fatores econômicos, sociais, de saúde e outros. O problema é que a falta de aprendizagem se transforma em bola de neve e cresce no decorrer dos anos, o que resulta na taxa de analfabetismo na Paraíba em 2019, entre as pessoas de 15 anos ou mais de idade: 16,1% (PNAD-C).
Mesmo sem ler ou escrever, essas pessoas têm o direito de exercerem a cidadania democrática. Eles compõem o contingente de 211.486 eleitores analfabetos que deverão votar nas próximas eleições, na Paraíba (TRE-PB/2022). São cerca de 7% dos eleitores no Estado que poderiam ter mais acesso à informação, ter mais conhecimento, se soubessem ler e ter entendimento sobre o que estão lendo.
Embora a SEECT desenvolva políticas para a alfabetização de adultos, “a educação infantil é o grande gargalo desse problema”, analisa Herbert Gomes, coordenador geral das atividades do Regime de Colaboração. “Não temos dados precisos mas temos o conhecimento empírico de que algumas crianças chegam à escola sem saber segurar um lápis (e os professores podem confirmar esse fato). Os professores precisam retroceder no ensino para exercitar a coordenação motora da criança. Esse tempo gasto é o tempo em que a criança já deveria estar aprendendo a ler e escrever. E o tempo perdido não se recupera - o atraso reflete nos anos seguintes”.
Atualmente, o desafio aumentou por causa da ausência das crianças nas escolas, devido à pandemia. Uma avaliação inicial feita pela SEECT em 2021, entre os estudantes de anos iniciais, identificou que um quarto (¼) desses estudantes estão com déficit de aprendizagem que precisa ser corrigido imediatamente. “Temos uma geração, desde 2020, que não passou um período satisfatório na escola. Essas crianças não se socializaram, não treinaram determinadas habilidades e chegam às aulas com atrasos no desenvolvimento. Mesmo com o ensino remoto, crianças de 6 e 7 anos não têm a mesma autonomia de aprendizado de um adolescente”, afirma Herbert.
Essas dificuldades levaram o Governo do Estado da Paraíba a investir na formação dos estudantes desde o início da vida escolar. Como a responsabilidade pela educação nas séries iniciais é dos municípios, o Governo Estadual estabeleceu um Regime de Colaboração (Lei Estadual 12.026, de abril de 2021), de forma a apoiar o trabalho nas Secretarias de Educação municipais e nas escolas que integrarem os esforços.
O objetivo é alfabetizar todas as crianças na idade certa, assim como corrigir o déficit de aprendizagem e a distorção idade-ano dos estudantes das redes estadual e municipais de ensino. Suênia da Silva Mota, Coordenadora do Integra para os anos iniciais na Escola Estadual de Ensino Fundamental Maria Alves de Brito, na zona rural de Pilar constatou que o “Integra é a chama viva da educação. Onde o programa tem passado (desde 2021), tem deixado um rastro positivo. Um desses pontos é o processo de formação de professores, o monitoramento, planejamento... E a alfabetização sendo entendida como um desenvolvimento, um conjunto amplo de habilidades. Na nossa escola, despertou uma a atuação de líderes de turma. É o aluno entendendo o seu papel”.
Herbert Gomes explica como se deu o início da elaboração do Regime de Colaboração na SEECT: “Quando decidimos apoiar a educação nos municípios nos deparamos com um dilema: o que é um estudante alfabetizado? Vários autores trabalham esse tema, mas uma resposta específica não consta em nenhuma diretriz nacional ou estadual. A Base Nacional Comum Curricular diz que o estudante alfabetizado domina determinadas habilidades até os sete anos, mas é vago. Então, partimos de pressupostos que se consolidou como um conceito de alfabetização que é o que trabalhamos com os municípios”.
Conforme considera o corpo de educadores da SEECT, então, “está alfabetizado, à luz da Educação na Paraíba, aquele estudante que lê bem e faz uso social da leitura; que escreve bem e faz uso social da escrita; que possui um letramento matemático; e é um estudante que possui um letramento científico, ou seja, que consegue pensar criticamente, intervir e participar de forma autônoma, despertando sua inclusão ativa na sociedade”.
No contexto do Letramento Científico, não basta a criança desenhar letras, decorar tábuas de matemática, ou ler um texto aleatório. O estudante deverá ter a capacidade de “ler o mundo, o universo através da matemática”, entender as informações que recebe de forma a interpretá-las, exprimir seus pensamentos através de textos escritos e, abrangendo todas essas capacidades, “o estudante deve ter a percepção de que o ensino de ciências está em ações simples do cotidiano, de que ele pode e deve ter uma participação ativa na sociedade e, com isso, espera-se que ele passe a entender as consequências de determinadas atitudes que levam o meio ambiente à degradação, por exemplo, e ele se sente motivado à mudança de atitude”.
Essa explanação foi feita pela formadora, professora da Rede Estadual de Ensino Aline Araújo, de Cuité, uma das integrantes do time que trabalha na elaboração do processo de formação de professores dessa colaboração educacional. Ela foi uma das formadoras da Primeira Formação Continuada de 2022. A formação foi feita online, durante três dias, na semana que passou. O vídeo do primeiro dia ultrapassou 20 mil visualizações, o que demonstra o interesse pela formação. No segundo e no terceiro dias somaram quase 24 mil acessos, contando até quinta-feira (03), dia do lançamento do Ano do Letramento Científico.
“O pensamento científico precisa ser despertado desde os anos iniciais porque essa é a chave para a criação de uma sociedade crítica, leitora, curiosa e com capacidade crítica para efetivar uma intervenção positiva”, expõe a professora Aline.
O regime de colaboração opera por meio de uma força coletiva que se estende desde a Secretaria Estadual de Educação até os 221 municípios integrados. Na SEECT, 10 pessoas compõem a comissão executiva. Uma equipe de apoio, com mais 10 pessoas; um núcleo de 20 consultores, que elaboram as formações e o material educativo. Em cada Gerência Regional de Ensino (são 14) há um assessor que articula as ações junto aos municípios das regiões. Em cada município há, pelo menos, um coordenador responsável pela gestão, os dados do município, a articulação das ações e, pelo menos, um formador-chefe que forma a equipe pedagógica da escola no município.
A fala do Secretário Executivo de Ciência e Tecnologia da Paraíba, Rubens Freire, durante o lançamento do Ano do Letramento Científico chamou a atenção à uma lâmpada: “A experiência das pessoas com relação à energia se dá no mercado, ou na ferragem, quando elas compram uma lâmpada. Provavelmente, a lâmpada queimou e precisou ser trocada, o que se resolve com uma ida ao supermercado. Mas o que levou aquela lâmpada estar ali para ser vendida, o fato de ela ter sido fabricada, o fato de ela estar conectada a uma rede de energia que inicia em uma hidrelétrica, ou em outra fonte de energia, tudo isso, é fruto do trabalho de pessoas que, algum dia, passaram por um letramento científico. Ou seja, elas foram despertadas para questionar: como, ou por que uma lâmpada ilumina? De onde vem a lâmpada, a energia? ”.
Considerando o distanciamento temporal entre a época em que ele estava na escola e a educação atual, Rubens Freire, que é professor de Física na Universidade Federal da Paraíba, lembrou que em um momento de sua vida escolar passou por um letramento científico, embora não fosse reconhecido por este nome.
Herbert Gomes ressalta: “Quando não vivenciamos a Pedagogia, temos a impressão de que ela se encontra estagnada. Mas, pelo contrário, ela evoluiu a passos largos de 1980 até então. Recentemente, o salto foi maior, a pandemia teve esse efeito positivo: mudanças que esperávamos acontecer ao final dessa década aconteceram em 2020. A tecnologia entrou na rotina escolar como ferramenta pedagógica”
Mas não se trata apenas de tecnologia, e sim de atitude pedagógica. “O letramento científico já é, de certa forma, aplicado nas escolas”, salienta Herbert Gomes. “Mas nesse ano será dada maior ênfase à ciência. Esse pensamento científico permeia todas as disciplinas, sendo Português, Geografia, Física ou Química… Todas as matérias provém da ciência. E neste ano as estratégias pedagógicas terão este tema como pano de fundo”.
A SEECT coordenou a elaboração do “Caderno de Letramento Científico”, um guia com sugestões para o ensino com ênfase no pensamento científico. O material tem como fundamento a Base Nacional Comum Curricular, a qual destaca que o Letramento Científico “implica na capacidade de compreender e interpretar o mundo, mas também de transformá-lo, com base nos aportes teóricos e processuais das ciências”. Entretanto, o professor terá a plena liberdade de escolher as fontes que vão orientá-lo na formação do aluno. A SEECT estabelece as bases e aponta caminhos.
Por: Márcia Dementshuk